sexta-feira, fevereiro 14, 2025
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BRENO PIRES MOREIRA

Bom dia amigos leitores

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* Capítulo 10 – Dia 10 da viagem (15/02/24) – Quinta-feira

Após um lauto café da manhã no hotel Ibis de Antofagasta, partimos para mais uma “perna” de nossa viagem, já fazendo o caminho de “volta” para casa. Continuaríamos descendo o litoral do Oceano Pacífico. Obviamente que a paisagem continuaria sendo a de mar-deserto-montanha… O destino seria a cidade de Copiapó, há 522 km.

* No meio do caminho tinha uma mão, tinha uma mão no meio do caminho…

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Saindo de Antofagasta o ponto turístico obrigatória a seguir seria a “Mão do Deserto”, uma escultura em forma de mão feita pelo chileno Mario Irarrázabal, há 50 km de distância, literalmente no meio do deserto.

Foi construída com ferro e cimento, sua altura supera 11 m, e foi inaugurada em 1992. Está em um local que também se destaca por possuir excelentes condições para se fazer observações astronômicas a olho nu.

* Deserto e mais deserto…

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Como a Mão do Deserto ficava 50 km deserto à dentro, para continuarmos em nossa viagem até à cidade de Copiapó tínhamos duas opções: seguir à diante e rodar por mais 300 km no meio do deserto, sem nenhuma cidade ou ponto de abastecimento (sendo que a questão do combustível não seria um grande problema, pois carregávamos bambonas com gasolina, para um caso de necessidade), ou voltar ao litoral, perfazendo uns 120 km apenas em meio ao deserto, mas aumentando a viagem em 40 km… Optamos pela segunda alternativa, até por que a paisagem seria muito, mas muito mais bonita…

E assim, seguimos pelo deserto e chegamos ao litoral.

* Taltal

Por volta do meio-dia chegamos na cidade portuária de Taltal, onde faríamos uma pausa e almoçaríamos. É uma pequena cidade portuária com pouco mais de 20.000 habitantes onde, mais uma vez, fizemos uma excelente refeição à base de pescado recém colhido: nosso restaurante ficava em frente ao píer onde chegavam os barcos dos pescadores. Paisagem maravilhosa, vistas espetaculares, clima relativamente ameno, e atendimento simpático das pessoas.

Coroando esse momento de pausa e descanso bucólico, grupos de leões marinhos vinham até quase à areia da praia para se refestelar e, disputando com as gaivotas, de repente ganhar algum quitute dos pescadores que a todo momento aportavam… E bora para a estrada, ainda pela Ruta 1.

* Copiapó

Saindo da Ruta 1 e pegando a Ruta 5, chegamos por volta das 16h na cidade de Copiapó.

É uma cidade grande para os padrões chilenos, com mais de 130.000 habitantes, também localizada no meio do deserto e das montanhas.

Como de praxe, fomos abastecer e procurar hospedagem. Tivemos um pouco de dificuldade quanto à primeira necessidade, pois em vários postos não havia mais combustível; com relação à hospedagem, nos indicaram o hotel HR que, no entanto, não tinha garagem para as motos; então fomos para outra indicação que se mostrou excelente e barata (para os padrões chilenos): Hotel HR – filial, onde as motos ficavam na porta dos quartos.

* O ataque dos perros…

Ponto negativo em Copiapó foi que ao sair do primeiro hotel indicado, do qual desistimos, passando por uma praça fui atacado por dois enormes cães pit bull. Me vi estreito, pois o trânsito não me permitia acelerar a moto e disparar das feras. Chutes para cá, aceleradas para lá, manotaços, gritos (dentro do capacete, ahahahahah) e os animais ali, pulando e tentando me morder. Para minha sorte, a calça que eu usava era forrada com kevlar (marca de um produto, um “tecido” ou malha especial, muuuuito resistente à abrasão e ao calor, que praticamente não fura nem rasga) que me protegeu das dentadas, ficando apenas as marcas dos dentinhos dos perros no jeans…

* Comendo um italiano

À noite, já instalados no hotel, fomos jantar. Optamos por uma lancheria próxima a uma faculdade, onde fomos muuuuito bem atendidos pelo proprietário e sua filha (ou seria neta? Ou esposa?). Dentre os muitos lanches do cardápio, e após tentarmos entender de que era feito cada lanche – a comunicação ficou meio difícil naquele quesito, ahahahah, optamos pelo “italiano completo”. Foi o melhor cachorro-quente que comemos em toda viagem.

O sono veio fácil, e as expectativas para o próximo dia eram bastantes boas, pois seria a última noite no Chi-chi-chi-le-le-le…

Apesar de ainda estarmos indo, já estávamos voltando, e um indelével aperto no coração já se fazia sentir…

* Tragédia…

Não sei qual seria o melhor termo para descrever o momento por que passa o Rio Grande do Sul, se tragédia ou catástrofe. Ou ambos…

Estamos diante de algo nunca imaginado, nem nos piores quadros de previsão meteorológica e muito menos de políticas públicas para a prevenção de fenômenos climáticos.

Muito se tem visto, ouvido e lido, então para não ser repetitivo, apenas faço alguns destaques, sendo o principal, a luta dos voluntários, algo espetacular, digno mesmo de elogio, e um aplauso especial para a turma aqui do Vale que se desloca para outros municípios para auxiliar nos mais variados tipos de serviços, atendendo às mais variadas necessidades da população atingida.

* Outros destaques   

A destruição da malha viária criou a expectativa de desabastecimento, tanto de combustíveis quanto de alimentos básicos. Felizmente isso está se revertendo e, mesmo com dificuldades, o abastecimento está sendo feito. Mas que um certo histerismo consumista quase tomou conta das pessoas, isso eu pude notar sim…

Nosso município-mãe, General Câmara passou por uma verdadeira provação, justamente na semana de comemoração de seu aniversário: ficou uma semana sem energia elétrica, sem água potável, sem combustível e sem mercadorias no comércio em geral. A coisa só não foi pior por que tiveram acesso à região aqui do Vale, Passo do Sobrado e Santa Cruz do Sul.

Por fim, temos aí o símbolo da resistência, da resiliência, da luta e da importância do trabalho coletivo: o Caramelo foi salvo. Como eu disse, é apenas um símbolo, o que, nesse momento de tristeza e desesperança, é muito, mas muito importante mesmo.

Não sei se o que está por vir é o pior, mas que a reconstrução, tanto material quanto emocional, vai exigir muito de todos, não apenas dos atingidos (mas muito mais desses, óbvio) isso vai. Então, estejamos preparados, pois a pegada vai ser forte. Que Deus nos abençoe e dê forças.

Bom fim de semana, apesar dos pesares, e até à próxima, se Deus quiser.

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