Bom dia amigos leitores
* Discutindo a educação…
O tema me é recorrente, uma vez que, como é sabido, a Educação, assim, com letra maiúscula, foi o meu ramo de trabalho durante a maior parte da vida.
Em muitas oportunidades pude participar de reuniões, encontros, painéis, simpósios e seminários para discutir e debater a educação; isso sem falar que no dia-a-dia da sala de aula os embates por educação, aproveitamento escolar, aprendizagem e outros tantos conceitos afim, são (ao menos deveriam ser) muito comuns.
De tudo, tenho uma tese que, se não representa uma certeza, me foi formada a partir de toda experiência obtida nesses mais de quarenta anos dedicados à educação pública de qualidade: para que alguém possa discutir educação de forma minimamente legítima, esse alguém tem que, necessariamente, ter passado pela sala de aula (como professor), e de preferência no ensino fundamental. Concorda comigo?
* A questão é polêmica (mas não deveria ser)
Um dos temas mais polêmicos da educação nesses últimos tempos tem sido a implantação do turno integral nas escolas. Por turno integral entenda-se aquele em que o aluno passa o dia inteiro na escola.
Até o momento esse sistema não é obrigatório a todas as escolas e é adotado apenas em escolas de ensino fundamental, mas há determinação de que seja implantado, também, nas turmas de ensino médio.
O turno integral é, sem dúvidas, um dos mais importantes instrumentos para a busca de uma melhoria na qualidade da educação e no aproveitamento escolar dos alunos. Porém, e sempre há poréns, a implantação desse sistema encontra muita, mas muita resistência, principalmente por parte de pais. Principalmente, mas não só, pois não são poucos os professores que também se mostram resistentes à adoção dessa metodologia.
Mas se o turno integral é comprovadamente tão eficiente no aproveitamento escolar dos alunos, por que há tanta resistência?
* Existem realidade e realidades…
Outro dia, participando de um seminário com representantes da SEDUC-RS e outras instituições, fui questionado sobre o que eu pensava sobre o “turno integral”.
Como o amigo leitor já deve saber, eu sou à favor sim, e foi isso que eu disse aos demais membros da discussão. Sou à favor, julgo não só importante, mas necessário, ainda mais diante do quaro geral de baixo aproveitamento escolar de nossos alunos nas avaliações institucionais.
No entanto, eu disse que via como extremamente difícil e delicada uma aceitação pura e simples por parte de muitas comunidades a implantação do sistema.
Existem realidades em que implantar o turno integral será uma tarefa relativamente fácil; noutras, ao contrário, será extremamente difícil em face das resistências que se apresentarão.
Foi então que a representante da SEDUC-RS me perguntou: se o senhor fosse representante da SEDUC, como o senhor procederia para implantar o turno integral nas escolas onde ocorre uma resistência mais ferrenha?
* Não existe mágica
A resposta à questão anterior certamente não deve ter sido a que esperavam, pois eu disse que eu possuía dois ângulos para ver a situação: no primeiro, eu não sabia exatamente como fazer, pois seria necessário criar instrumentos de sondagem e diagnóstico para entendermos o porquê de tanta resistência, para somente depois poder pensar em mecanismos e processos de convencimento dos resistentes; no segundo, eu disse que se eu não sabia como fazer, ao menos eu saberia como não fazer. Daí que me perguntaram, então, como não fazer, e isso foi fácil: implantar em uma escola, de forma impositiva, o turno integral, sem ouvir professores e funcionários, pais, comunidade e principalmente alunos, é o primeiro passo para o insucesso. E completei: sempre que em educação uma medida é feita de forma unilateral, simplesmente imposta, ele tem muitas chances de dar errada ou sofrer muitas resistências…
* Insistindo no assunto, e sendo levados a pensar
Daí que outra representante do governo do estado, não sei dizer que secretaria exatamente ela representava, me indagou: mas o professor (eu) não acha que uma medida que venha da mantenedora tem que ser recebida e implementada pela escola (que justamente é mantida pelo estado) de forma objetiva?
Essa é uma questão muito delicada, pois qualquer que fosse a resposta dada, se positiva ou negativa, certamente poderia deixar de atender às expectativas de quem a perguntou.
Mais uma vez apresei um argumento que serviu para mostrar a complexidade da questão.
Na realidade de nossos pequenos municípios do interior do estado, em que a economia é predominantemente baseada na agricultura familiar, como convencer, por exemplo, um pai e mãe que tem dois filhos, um pequeno e um adolescente, e que precisam trabalhar duro e diariamente na agricultura, de sol a sol, que é mais importante o filho adolescente ir para a escola em turno integral do que ficar em um dos turnos em casa cuidando do irmão para o pai e a mãe poderem trabalhar? Ou, então, como convencer, outro exemplo, um pai de aluno que, tendo um filho adolescente que trabalha na lavoura de fumo, fazendo uma renda razoável nas épocas de colheita, que esse filho deva deixar de trabalhar para passar o dia na escola? E se for um aluno que já se determina, como convencê-lo a não trabalhar (e deixar de ganhar R$100,00, R$150,00 por dia, no mínimo) para ficar estudando “sem ganhar” (assim, entre aspas) nada? Hein? Hã?
Por isso que eu disse: é uma questão delicada, complexa e de difícil solução, que deve levar em conta as realidades de cada instituição escolar e muito bem discutida com toda comunidade escolar e os agentes das relações de ensino…
O que o amigo leitor pensa a respeito?
Bom fim de semana e até à próxima, se Deus quiser.