terça-feira, maio 7, 2024
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Breno Pires Moreira

Bom dia amigos leitores

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* Capítulo 7 – Dia 07 da viagem (12/02/24) – Segunda-feira

Agora sim, saindo de San Salvador de Jujuy, começaríamos a subir a Cordilheira do Andes em direção a nosso destino central, a cidade de San Pedro de Atacama, no meio do deserto de Atacama. Mais uma vez a paisagem nos surpreenderia com beleza tão absurda, e as surpresas nos trariam experiências inesquecíveis…

* Saindo de Jujuy

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Logo cedo nos despedimos do amigo Endrigo, um dos proprietários da Motopousada em que pernoitamos e, após um regime intermitente, paramos para um necessário e oportuno café. Como eu disse semana passada, foi a melhor media luna que comi em toda viagem, não sei se pela fome, estávamos desde às quinze horas do dia anterior sem nenhuma refeição, exceto o bife de fígado oferecido pelo Brujo, ou se realmente estava boa, visto que recém havia sido assada. Foi a melhor!

Logo na saída as altas temperaturas e o cansaço da estrada já começavam a ser fazer presentes. Porém, a beleza inicial da Ruta 9, levando—nos em ziguezague por entre densa mata tornava a viagem muito atrativa, diminuindo também o calor.

Por volta do quilômetro 26 após Jujuy a paisagem começou a mudar e a mata começou a ser substituída por uma paisagem transitória para o deserto. Seria mais ou menos um semiárido. E começamos a subir… Mais alguns quilômetros e entramos mesmo no deserto, assim como entramos em definitivo no espaço geográfico da Cordilheira do Andes.

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Que o amigo leitor me desculpe o bin-in-idem, mas a paisagem que se apresentava, não mais plana e verde, mas acidentada (bem acidentada) e laranja-avermelhado se fazia belíssima. Mais! Indescritível.

O primeiro ponto de parada (dos muitos que teríamos nesse dia) foi o Cerro das Três Cruzes, um morro escalado há uns 600m da rodovia, donde se tinha uma visão muito ampla de toda a região… Muito lindo.

A propósito, a Ruta Nacional 9 – RN9 é uma unanimidade em termos de beleza entre as pessoas que por lá passaram.

* Purmamarca

Seguindo na bela Ruta 9, o próximo ponto de parada foi no acesso da cidade de Purmamarca, pequena cidade da província de Jujuy (aproximadamente 2.500 habitantes), localizada a 2324 m acima do nível do mar.

Em Purmamarca encontra-se importante ponto turístico denominado Cerro de las Siete Colores – Cerro da Sete Cores, que é justamente isso: um combinação geológica que fez com que a fachada de uma montanha seja colorida por sete tipos diferentes de solo. Maravilhoso.

Foi em Purmamarca que entramos em contato com os “remedinhos” indicados para enfrentar alguns dos males da altitude, principalmente os feitos à base de coca. O companheiro Chico preferiu comprar umas folhas; eu optei pelos caramelos feitos com as folhas e mel. Esses “remédios” se mostrariam muito úteis mais tarde, já na volta, mas por outro motivo além de amenizar os efeitos da altitude (mas isso eu explico em outro momento, ahahahahah).

Uma curiosidade: um dia antes de nós alguns motociclistas haviam passado por Purmamarca e ficaram mais de quatro horas parados na cidade, pois na rodovia estava sendo realizado um carnaval e o tráfego de veículos estava proibido. Espero ao menos que tenham participado da folia de momo, ahahahahahah.

* Montanhas listradas

Um fenômeno interessante, um verdadeiro mistério, que começamos a observar é que muitas das montanhas que víamos à frente nos pareciam listradas. Na verdade eram listras em ziguezague que iam da base até quase ao topo (ou vinham do topo até à base?).

Logo depois de Purmamarca começamos a entender o fenômeno: eram as rodovias ou estradas que, serpenteando as montanhas, levavam até o topo da Cordilheira (para quem, como nós, subia, pois para quem descia, e muitos desciam, levava para a base, kkk). Fenomenal!

E assim começamos a subir, e subir, e subir…

* Marco Quatro Um Setenta...

Subimos e subimos, paramos para tirar fotos da rodovia serpenteante no Mirador do Vale do (rio) Lipan, e subimos e subimos mais um pouco, até chegarmos em um parador que era, naquela montanha, o ponto mais elevado da rodovia: estávamos há 4.170m acima do nível do mar… Era o Monolito Cuesta do Lipan.

Foi minha primeira experiência acima dos 4.000 m de altitude e confesso que experimentei um pouco das dificuldades de se respirar a essas alturas: respiração pesada, qualquer movimento mais rápido nos deixa ofegante, o ar entra em nossos pulmões, mas o oxigênio, mais rarefeito, entra em menor quantidade, daí a sensação de falta de ar que atinge muitas pessoas. Como qualquer turista bobaião, resolvi dar uma “corridinha”, só para ver, e realmente o ar se foi, ahahahahah, tive que sentar numas pedras. Que barbarbaridade. E vi gente usando garrafas portáteis de oxigênio… Imagino mesmo a dificuldade de atletas do Brasil, principalmente, quando vão disputar provas e competições nessas altitudes…

Tiramos fotos, muitas fotos, mastigamos folhinhas e balinhas, e bora pra estrada, pois tínhamos caminho ainda longo pela frente…

Ah, o pico desta montanha estava bem mais acima de nós. Seria interessante…

* O sal da terra

Saímos do marco 4170, descemos um pouco e nos deparamos com outra visão surreal: a rodovia cortava, a perder de vista, uma extensa planície branca que sabíamos ser os salares. Eram as Salinas Grande de Jujuy, Argentina, um deserto de sal com 320 km de extensão, mais de 212 km², há 3.450 m acima do nível do mar. É sal e sal: casa de sal, estrada de sal, prédios de sal, calçamento de sal, banheiros de sal, mesas e cadeiras de sal, souvenires de sal, minas de sal… E uma rodovia cortando toda essa imensidão… E reta e mais reta, afinal, apesar da altitude, estávamos em uma planície. Tudo reto, tudo branco, tudo plano…Outra beleza de tirar o fôlego.

* Daquelas imagens que só se vê em filme…

Quando paramos nas Salinas Grandes para as fotos de praxe, fizemos também o de praxe: vistoria nas motos, hidratação e/ou lanche se com fome, ajuste nas bagagens… Tínhamos então combustível suficiente para chegarmos até o próximo ponto de abastecimento, uns 80km à frente, na cidade de Susques.

Susques é uma pequena cidade, com aproximadamente 2000 habitantes, localizada há 3.900 metros de altitude. É, como muitas das cidades daquela região, uma cidade de mineração.

Lá chegando fomos procurar o posto de combustíveis. Andamos para um lado e nada; andamos para outro, e nada! Perguntamos para dois senhores que passavam que disseram: “logo alí…” e mais outras coisas que não entendemos. Ao contornarmos uma casa de madeira nos deparamos com um rua de chão batido e exatamente no meio da rua duas pequenas bombas de combustível. Mais nada! Não havia placa indicativa, sinalização, calçada, canteiro, nada! Apenas as duas bombas de combustível, já encardidas pelo tempo, no meio da rua. Foi muito engraçado, pois passamos por ali antes e não vimos nada. Claro, no mínimo esperávamos um posto de gasolina… Mas mal chegamos e veio uma senhorinha, com características físicas do povo andino, muito simpática, e abasteceu nossas motos, recebendo “solamente en efectivo, no in tarjeta”… Óbvio que tiramos muitas fotos, ahahahahah

* E eis que surge nossa companheira…

Abastecemos e logo adiante de Susques paramos em uma bela pousada (bela para os padrões do deserto, claro) para abastecer e hidratar o corpo e seguimos ao próximo destino, Passo Jama, fronteira entre Argentina e Chile.

Deserto, sol e calor, rodovia, areia e pedra, muitos rebanhos de Lhama pelo acostamento e nas proximidades da rodovia, mais salares e nós motoqueando nas altitudes em direção ao Chile. Que coisa espetacular!

Foi então que o sol se fez menos intenso, a temperatura começou a amainar, as nuvens substituíram aquele esplendoroso céu azul do deserto e se avizinhou a nossa parceira de quase todos os dias anteriores, a dona chuva. E desta vez ela vinha com mais vontade ainda, pois o céu estava literalmente preto…

Alguns dias mais tarde, um motociclista argentino que encontramos nos deu uma aula sobre o tempo nas altitudes, e aprendemos com ele o que já havíamos aprendido neste dia na prática: nas montanhas, nuvens muito escuras ou nuvens muito brancas têm um significado especial, pois são sinal de neve, muuita neve. Mas isso é história para o próximo capítulo. Voltaremos!!!

Bom fim de semana e até à próxima, se Deus quiser.

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