O auditório central da Unisc ficou pequeno nesta quarta-feira, dia 4, para comportar os mais de 700 idosos que tomaram a decisão de sair de casa e buscar os direitos de uma expressiva parcela da população que, no Estado do Rio Grande do Sul, já supera numericamente a de crianças entre zero e 14 anos de idade. Diante de um cenário de inversão da pirâmide etária, os desafios dos governos e da sociedade como um todo, para o presente e para o futuro dos idosos são muitos e urgentes, como aponta o tema central da 7ª Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa: Envelhecimento Multicultural e Democracia: Urgência por Equidade, Direitos e Participação.
O primeiro painel foi apresentado pela vice-presidente do Conselho Estadual da Pessoa Idosa, Cátia Siqueira, que abordou o tema central da conferência. Ela convidou a plateia a olhar para o envelhecimento na atualidade, afirmou que o Brasil não é mais um país de jovens e que a existência de políticas públicas que atendam as demandas desse contingente depende de participação política, associativa e comunitária. “Vocês podem mudar o rumo das coisas. O Brasil tem ótimas leis, mas se vocês não reivindicarem, serão letra morta”, disse.
Cátia destacou as múltiplas realidades do envelhecimento no país, as diferenças culturais existentes em cada região, e disse que é preciso pensar na equidade para garantir direitos a todos, indistintamente. “Não vamos envelhecer todos iguais, quem mora na cidade não envelhece como quem mora no interior, quem é analfabeto não envelhece como quem teve estudo, uma formação. Muitos idosos não têm acesso e temos que olhar para todos e saber que há prioridades”, enfatizou.
Em pouco mais de 45 minutos, Cátia falou ainda que é preciso tratar o cuidado do idoso como um direito universal e não apenas como uma responsabilidade familiar. Ela lembrou que 2025 é o ano de construção dos planos plurianuais e que os idosos devem participar do processo nos seus municípios. Também não esqueceu de falar da invisibilidade do idoso negro, do idoso indígena e do idoso LGBTQIA+. Com relação a esse último grupo, foi ainda mais enfática. “Muitos não têm o direito de envelhecer. Não vejo essas pessoas nos grupos, nós as excluímos, não as respeitamos. Vamos pensar sobre isso”.
O segundo painel foi conduzido pela professora e psicóloga Silvia Virgínia Coutinho Areosa, coordenadora do mestrado profissional em Psicologia da Unisc, com pesquisas na área do envelhecimento. Ela iniciou falando sobre a diversidade do envelhecimento no Brasil, cuja expectativa de vida é desigual e disse que 15% da população é composta por idosos, enquanto no Estado esse índice já chega a 20%.
Silvia propôs uma reflexão acerca do cuidado dispensado a uma população que cresce cada vez mais. Lembrou que as famílias mudaram e já não são tão numerosas e que os cuidados agora passam a acontecer cada vez mais dentro de instituições de longa permanência, as ILPIs. Falou do papel dessas instituições, da importância da fiscalização e também de pessoal capacitado para o cuidado com a pessoa idosa.
Outro ponto para o qual a professora chamou a atenção foi a quase inexistência de espaços públicos para acolher pessoas de baixa renda. “Hoje Santa Cruz do Sul tem mais de 30 instituições com cadastro ativo no Conselho do Idoso e apenas uma é filantrópica. Como quem recebe uma aposentadoria de um salário vai poder arcar com os custos de uma instituição particular?”.
Silvia também deu ênfase ao papel fiscalizador dos conselhos, especialmente no tocante aos casos de violência, que ocorrem dentro das instituições. “Como uma pessoa fragilizada vai conseguir dizer que passa por uma situação de violência psicológica? O idoso tem o direito de não ser judiado, de ser bem cuidado, de ter sua higiene assegurada, sua alimentação. Qualquer um de nós pode precisar vir a ser institucionalizado”.
No período da tarde, ocorreram as discussões em torno dos eixos temáticos, plenária com votação das deliberações e eleição dos delegados para a Conferência Estadual.
*Abertura* – A 7ª Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa teve início com uma benção ecumênica a cargo do pároco da Catedral São João Batista, Rodrigo Hillesheim, e do pastor da Comunidade Bom Pastor, Samuel Gausmann. Na sequência, o grupo de danças Amor à Vida, da comunidade Bom Pastor, fez uma apresentação, seguida pela cerimônia de abertura com pronunciamento das autoridades.
Estiveram presentes na mesa de honra, o vice-prefeito Alex Knak; a primeira-dama e secretária municipal de Desenvolvimento Social e Inclusão, Fátima Alves da Silva; a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, Priscila Froemming; a vice-presidente do Conselho Estadual da Pessoa Idosa, Cátia Siqueira; o reitor da Unisc, Rafael Frederico Henn, a promotora de Justiça Catiuce Ribas Barin; a delegada Raquel Schneider; e o vereador Edson Azeredo.
Durante todo o dia uma equipe de vacinação da Secretaria Municipal de Saúde (Sesa) esteve disponibilizando vacinas da gripe e a empresa Sonora Soluções Auditivas ofereceu exames de meatoscopia. Também foram servidos lanches e houve sorteio de brindes.