Província de Wuhan na China, dezembro de 2019. Uma nova ameaça desconhecida surge para causar pânico e apreensão em todo o mundo, COVID-19 mais conhecido por Coronavírus.
A busca constante por informações sobre o assustador vilão que está a soltas não deixa dúvidas de que é necessário ter precaução, a comparação com países mais afetados se torna necessária para que não se repita aqui o que está acontecendo lá.
Para conhecer um pouco mais a situação da pandemia pelo mundo, a redação do jornal Gazeta Popular, contatou com pessoas que tem ou tiveram ligação com Passo do Sobrado e estão em diferentes países, os quais nos contam como está a pandemia hoje no lugar em que estão vivendo.
Austrália
João Pedro Kist, é jovem, e seus pais moram em Passo do Sobrado, mas ele está estudando e trabalhando na Austrália. Segundo João Pedro, “o número de casos aqui na Austrália está parecido com o do Brasil. No entanto, o vírus chegou aqui muito antes do que no Brasil, cerca de um mês antes. Acredito que pela proximidade e dependência econômica com a China. A diferença é que a polução da Austrália é muito menor do que a do Brasil, cerca de somente 25 milhões. O que faz parecer que o vírus está muito mais perto de todos nós. Moro no segundo maior centro urbano do País, na Grande Melbourne, onde somente serviços essenciais estão funcionando. Bares, restaurantes e lojas estão fechadas, alguns somente funcionando com entregas. As ruas principais estão bem vazias e muita gente está utilizando máscaras e até luvas quando saem. Logo quando o coronavírus chegou aqui, foi uma corrida totalmente descontrolada ao super-mercados. Passei semanas sem encontrar arroz, papel higiênico, carne e massa nas prateleiras. A questão foi tão séria que o Primeiro-Ministro daqui teve que fazer uma anuncio na TV praticamente xingando a população para que parassem com essa histeria de estocar comida em casa. Essa semana que os mercados estão mais tranquilos, mas para encontrar tudo tem que comprar de manhã, porque no decorrer do dia as coisas vão sumindo das prateleiras. Trabalho em um empresa de serviços de limpeza domiciliar como responsável por organizar as limpezas e contatar os clientes, mas essa semana provavelmente será minha última, pois praticamente tudo foi cancelado. Eu estudo Mídias Sociais aqui e desde a semana passada minhas aulas passaram a ser online. A situação é semelhante para muitos intercambistas que estão aqui, que estudam e trabalham para se manter. Meus amigos estão na mesma situação. Muito apreensivos porque ficamos todos sem renda do dia para a noite. O governo já anunciou benefícios para todos australianos que perderam seus empregos, mas para estrangeiros que estão aqui nada ainda está definido. O governo estuda estender isso para todos, mas não sabemos ao certo se, de fato, vai acontecer. O clima é de bastante tensão porque ninguém sabe como que vai ser daqui para frente. Muitos intercambistas já falam em voltar para a casa, mas acredito que seja cedo para decidir isso ainda. Acredito que ainda é melhor ficar aqui, porque a Austrália sempre ajuda financeiramente a população que mais precisa e tudo aqui é muito organizado, o que acho que vai ajudar bastante em tempos de crise. Fora que a população aqui costuma cumprir os pedidos das autoridades. Todos que podem realmente estão tentando ficar em casa, lavando as mãos frequentemente, por exemplo. Acho que isso pode evitar, pelo menos um pouco, o caos social e nos serviços públicos da saúde que pode se instalar com a escalada do Covid-19 no mundo”, disse João Pedro.
Suíça
Tatianna Dietz, é uma brasileira, com forte ligação com Passo do Sobrado, que está morando na Suíça. Segundo relatos de Tatianna, “aqui na Suíça estamos de quarentena, ainda não está totalmente proibido sair mais o governo está contando com a colaboração da população para que todos fiquem em casa. Desde o sábado, dia 21.03.2020, grupos de mais de 5 pessoas juntas recebem multa. As escolas (aulas sendo feitas via ‘internet’), creches, lojas e até as fábricas estão fechadas. Quem pode trabalhar em casa está fazendo ‘Home Office’. Transporte público reduzido ao mínimo e a entrada em supermercados controlados para reduzir aglomerações. Pessoas acima de 65 anos ou com doenças estão recebendo ajuda da comunidade, para nem terem que sair pelo risco de se contaminar. O governo está ajudando financeiramente quem teve que fechar os negócios e mantém uma comunicação quase diária através de rádio e televisão. Os hospitais estão lotados ao máximo e o problema não é espaço ou infraestrutura mais falta de profissionais. Para ajudar, estão contando com o exército que chamou todos os recrutas que tem noção nessas áreas. Hoje, dia 23.03.2020, contamos com 8090 casos registrados e 70 mortos, ontem eram 7010 casos e 66 mortos. Nem durante a Segunda Guerra Mundial, as restrições foram tão grandes. Terrível por não se saber até quando isso vai durar. O governo fez essas restrições até o dia 19.04.2020, mais se o vírus continuar se espalhando dessa forma, com certeza vamos continuar em ‘lockdown’. Fronteiras com todos os países vizinhos estão fechadas, e o governo está ajudando os Suíços que estão espalhados por esse mundo afora a voltar para casa. O que está sendo difícil, pois o trânsito aéreo está parado. A comunicação do que está acontecendo no mundo vemos diariamente, (números e medidas de prevenção), e do Brasil infelizmente até agora, só vi comentários sobre o presidente, que falou que a situação não é tão dramática e que certos remédios, estão sendo comprados de uma forma absurda”, disse Tatianna.
Estados Unidos
Paulo Roberto Silva, é natural de Passo do Sobrado, sua família continua residindo no município. Este jovem, que teve passagem pela redação do Jornal Gazeta Popular, está atualmente nos Estados Unidos, onde trabalha na Disney. Paulo que esteve recentemente na região, retornou no dia 19 de março para os Estados Unidos. Ele contou nesta semana que, “primeiro Trump estava igual o Bolsonaro, afirmando que seria apenas uma gripe. Depois que começou a morrer gente e lotar os hospitais, o discurso mudou. Estou sendo pago até abril para ficar em casa. Todos os parques e hotéis da Disney estão fechados. Só supermercados com as prateleiras vazias, farmácias e postos de gasolina estão abertos. Você sai na rua aqui, é igual aquele seriado The Walking Dead. O povo está levando mais a sério que no Brasil. Conheço 3 pessoas que testaram positivo. Mais de 60 mil pessoas infectadas, mas não tem exames disponíveis para todo mundo, então pode ter muito, até agora morreram mais de 800 pessoas. O medo é que fique como na Itália, que estavam morrendo 300 pessoas por dia. Estava no Brasil até quinta-feira, dia 19 de manhã, estava acontecendo uma feira. Então não me pareceu que o povo Brasileiro está levando isso muito a sério no Brasil”, disse Paulo.
Alemanha
Na Alemanha, na cidade de München vive a estudante de medicina Hanna Elena Kläger de 22 anos, em conversa com o Jornal Gazeta Popular, relatou um pouco da situação que passa em seu país. Hanna esteve no Brasil no ano de 2017, onde participou de um intercâmbio voluntário que é proposto em uma união entre a diocese de Santa Cruz do Sul e a Diocese de Stuttgart na Alemanha.
Segundo Hanna, este período na Alemanha é caracterizado pela troca de estação e a chegada da primavera, a semana foi marcada por temperaturas entre 2ºC e 6ºC. Comentou que para eles, é o período de férias entre semestres, o que de certa forma ajudou a amenizar algumas situações relativas à quarentena.
Hanna relatou que em sua cidade, há muitos meios de comunicações distribuindo dados relativos, “muitas mídias estão divulgando que há vários casos de Covid-19 e outras que divulgam informações sobre poucos casos, sei que há muitos casos aqui na minha cidade, e no estado também”, comentou Hanna. Essa situação pode facilmente ser comparada a atual conjuntura no Brasil, onde as famosas Fake News voltaram a confundir a população entre o que é realmente é verídico ou não.
Hanna salientou que no mês de fevereiro, realizou um estágio em um hospital do sul da Alemanha, onde até o momento não tinham presentes nenhum caso de Coronavírus, porém a tensão tomava conta do ambiente hospitalar.
Como no Brasil, quando anunciaram que um terrível vírus de nomenclatura estranha COVID-19 ou Coronavírus, poderia atingir o país, todos correram para comprar máscaras, luvas e álcool gel, e logo era quase impossível encontrar esses materiais nas prateleiras, “vários produtos faltaram e ficaram indisponíveis, os hospitais também estão necessitando e não conseguem o material necessário para os procedimentos, explica ela com preocupação. O sistema de saúde alemão funciona de forma em que, o paciente precisa ligar para saber se pode ser atendido, por conta do aumento no número de casos e para evitar aglomerações. Tenho uma vizinha que mora com sua família, estavam todos em casa, e ela queria fazer o teste de Coronavírus, ela precisou esperar uma semana para fazer o teste e resultado levou entre 5 e 7 dias. Aqui todo mundo já entendeu o quanto é grave, e todos se ajudam e ficam em casa. Claro que tem pessoas que não entendem e desobedecem às regras, que implicam em multas de 200 Euros para quem descumprir. Por exemplo, se 5 pessoas estão fazendo um churrasco, e a polícia chegar, cada um deve pagar 200 euros de multa por restringir as regras”. disse Hanna.
A Alemanha conta atualmente com aproximadamente 33 mil pessoas que testaram positivamente para o vírus. Hanna ainda fez uma breve comparação entre Alemanha, Itália e Brasil. “todos devemos ver a Itália e não seguir o exemplo dela. Os italianos não deram importância, saíram e fizeram festa, e acabaram infectados com Coronavírus, ocasionando, morte em grande escala, e aqui, (referindo-se a Alemanha) foi diferente, logo adotamos medidas de prevenção. A Itália também não tinha estrutura para atender a população infectada pelo Corona. Os médicos tinham que decidir quem iria ficar no hospital para tomar medicação ou ir para casa para morrer”. A forma que morrem os infectados pelo Coronavírus, é semelhante a um afogamento em água, não havendo ar para respirar, deve ser uma forma horrível para pessoa, como para profissionais de saúde”, lamenta Hanna.
No Brasil, Hanna fala que tem acompanhado pessoas do seu vínculo de amizade, através da rede social, e notou que elas estão prevenidas contra o Coronavírus. “Não sei se é apenas meus amigos que tem mais conhecimento, dos casos da Itália que o Coronavírus foi muito agressivo e matou muitas pessoas, talvez seja por isso que estão tomando cuidado” disse Hanna.
“Não tivemos experiências com o calor aqui no país, para ver como o Coronavírus se comporta. O pico de gripe, foi no inverno no início do ano, agora já está mais quentinho, as casas por dentro aqui são aquecidas, só colocamos agasalhos mais pesados ao sair para rua. Acho que esse vírus não é brincadeira, vivemos uma guerra silenciosa, com inimigo oculto, devemos cuidar da população, cuidar dos vizinhos, das crianças e dos idosos por serem grupos mais vulneráveis a doença. Provavelmente se eu, que sou jovem me infectar com o vírus não vou morrer, mas esse grupo que é mais vulnerável a doença, o vírus se torna mais agressivo,” disse a estudante de medicina.
Hanna ainda falou que tem a convicção de que valerá a pena todo esse esforço de ficarmos em casa “logo tudo vai passar, e viveremos dias melhores” concluiu Hanna.
Vale lembrar que no Brasil, em pesquisa realizada em sites confiáveis, no dia 25/03/20 estavam registrados segundo as Secretarias estaduais de Saúde, 2.281 infectados em todos os estados do Brasil. Foram registrados 47 mortos no país, 40 deles no estado de SP. E de acordo com a projeção feita com base em dados dos países mais afetados, estima-se que os casos possam duplicar, isso se a população não tomar consciência e seguir as instruções da OMS (Organização Mundial da Saúde).