Bom dia/ Boa tarde a todos.
Vivemos tempos desafiadores. Tempos em que o individualismo tomou o lugar da empatia, em que o “eu” grita mais alto que o “nós”. E, diante dessa realidade, não falo apenas por desabafo, mas por um profundo chamado à consciência coletiva.
É doloroso ver uma sociedade onde a conquista do outro vira motivo de desdém. Ouvimos frases como: “Fulano já ganha bem, não precisa de mais nada”, como se o sucesso alheio fosse um incômodo, e não uma inspiração. A inveja tomou o lugar da admiração. O julgamento, o lugar do incentivo. E assim seguimos, como se a vitória só tivesse valor quando é apenas nossa.
As relações humanas se tornaram frágeis. Utilitárias. Pessoas se aproximam enquanto são favorecidas, mas se afastam ao menor sinal de discordância. Basta você deixar de agradar, e aqueles que se diziam amigos somem. Como dizia Zygmunt Bauman, estamos vivendo em uma “modernidade líquida”, onde até os sentimentos evaporam diante da primeira contrariedade.
Mais triste ainda são aqueles que, para subir um degrau, pisam em outros. Mentem, manipulam, traem. Agem como se a ética fosse um acessório opcional — quando, na verdade, ela deveria ser o alicerce de qualquer convivência. Que tipo de sociedade é essa, em que o sucesso é medido pela habilidade de atropelar quem está no caminho?
Émile Durkheim já alertava: “Nosso egoísmo é, em grande parte, produto da sociedade”. E é verdade. Estamos inseridos em um sistema que premia o ganho individual e despreza o compromisso com o bem comum. Mas será que é esse o mundo que queremos deixar para as próximas gerações?
Oscar Wilde afirmou: “Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos”. E quantas vezes fazemos isso? Aceitamos o outro apenas enquanto ele pensa como nós. Discordar virou motivo para afastamento. Respeitar a diferença virou raridade.
A empatia está desaparecendo. E como dizia Carl Rogers, “empatia é ver o mundo com os olhos do outro, e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele”. Isso exige escuta. Exige esforço. Exige humanidade.
Dizemos que relações precisam ser de mão dupla, mas, na prática, muitos só aceitam a via que os favorece. Essa lógica nos distancia do senso de comunidade. E, como disse Montesquieu: “O que não for bom para a colmeia também não é bom para a abelha”. Se o coletivo vai mal, nenhum de nós estará verdadeiramente bem. Somos interdependentes. Negar isso é negar nossa própria essência.
Nelson Mandela, com sua sabedoria, nos lembra através da filosofia Ubuntu: “Eu sou porque nós somos”. Ele dizia que devemos incentivar as pessoas vendo o bem nelas. E essa visão generosa do outro é o que falta em nosso tempo.
Vivemos em uma sociedade em que muitos riem quando alguém perde. Celebram a queda de um adversário mais do que o próprio mérito. Fazem festa porque seu candidato ganhou uma eleição — mas não se perguntam se o coletivo ganhou com ele. Brigam por seus líderes como se fossem deuses, enquanto esquecem que a democracia não é guerra, é convivência.
Promessas não são cumpridas. O respeito virou exceção. A vaidade, a ganância e o orgulho ocupam o lugar da compaixão. E é nesse cenário que precisamos fazer uma escolha consciente: ou seguimos nesse caminho de indiferença e mesquinharia, ou escolhemos fazer diferente.
Há esperança. Ainda é tempo de mudar. Podemos — e devemos — reconstruir nossas relações com mais verdade. Podemos praticar a empatia, agir com ética mesmo quando ninguém está vendo, e lembrar que o outro não é nosso inimigo — é nosso semelhante.
Porque ninguém cresce sozinho. E ninguém é verdadeiramente feliz num mundo onde o outro não importa.
Por Pedro C. Silva