segunda-feira, junho 2, 2025
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em Tempos de Egoísmo"

“O Esquecimento do Coletivo 
em Tempos de Egoísmo”

Bom dia/ Boa tarde a todos.

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Vivemos tempos desafiadores. Tempos em que o individualismo tomou o lugar da empatia, em que o “eu” grita mais alto que o “nós”. E, diante dessa realidade, não falo apenas por desabafo, mas por um profundo chamado à consciência coletiva.

É doloroso ver uma sociedade onde a conquista do outro vira motivo de desdém. Ouvimos frases como: “Fulano já ganha bem, não precisa de mais nada”, como se o sucesso alheio fosse um incômodo, e não uma inspiração. A inveja tomou o lugar da admiração. O julgamento, o lugar do incentivo. E assim seguimos, como se a vitória só tivesse valor quando é apenas nossa.

As relações humanas se tornaram frágeis. Utilitárias. Pessoas se aproximam enquanto são favorecidas, mas se afastam ao menor sinal de discordância. Basta você deixar de agradar, e aqueles que se diziam amigos somem. Como dizia Zygmunt Bauman, estamos vivendo em uma “modernidade líquida”, onde até os sentimentos evaporam diante da primeira contrariedade.

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Mais triste ainda são aqueles que, para subir um degrau, pisam em outros. Mentem, manipulam, traem. Agem como se a ética fosse um acessório opcional — quando, na verdade, ela deveria ser o alicerce de qualquer convivência. Que tipo de sociedade é essa, em que o sucesso é medido pela habilidade de atropelar quem está no caminho?

Émile Durkheim já alertava: “Nosso egoísmo é, em grande parte, produto da sociedade”. E é verdade. Estamos inseridos em um sistema que premia o ganho individual e despreza o compromisso com o bem comum. Mas será que é esse o mundo que queremos deixar para as próximas gerações?

Oscar Wilde afirmou: “Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos”. E quantas vezes fazemos isso? Aceitamos o outro apenas enquanto ele pensa como nós. Discordar virou motivo para afastamento. Respeitar a diferença virou raridade.

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A empatia está desaparecendo. E como dizia Carl Rogers, “empatia é ver o mundo com os olhos do outro, e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele”. Isso exige escuta. Exige esforço. Exige humanidade.

Dizemos que relações precisam ser de mão dupla, mas, na prática, muitos só aceitam a via que os favorece. Essa lógica nos distancia do senso de comunidade. E, como disse Montesquieu: “O que não for bom para a colmeia também não é bom para a abelha”. Se o coletivo vai mal, nenhum de nós estará verdadeiramente bem. Somos interdependentes. Negar isso é negar nossa própria essência.

Nelson Mandela, com sua sabedoria, nos lembra através da filosofia Ubuntu: “Eu sou porque nós somos”. Ele dizia que devemos incentivar as pessoas vendo o bem nelas. E essa visão generosa do outro é o que falta em nosso tempo.

Vivemos em uma sociedade em que muitos riem quando alguém perde. Celebram a queda de um adversário mais do que o próprio mérito. Fazem festa porque seu candidato ganhou uma eleição — mas não se perguntam se o coletivo ganhou com ele. Brigam por seus líderes como se fossem deuses, enquanto esquecem que a democracia não é guerra, é convivência.

Promessas não são cumpridas. O respeito virou exceção. A vaidade, a ganância e o orgulho ocupam o lugar da compaixão. E é nesse cenário que precisamos fazer uma escolha consciente: ou seguimos nesse caminho de indiferença e mesquinharia, ou escolhemos fazer diferente.

Há esperança. Ainda é tempo de mudar. Podemos — e devemos — reconstruir nossas relações com mais verdade. Podemos praticar a empatia, agir com ética mesmo quando ninguém está vendo, e lembrar que o outro não é nosso inimigo — é nosso semelhante.

Porque ninguém cresce sozinho. E ninguém é verdadeiramente feliz num mundo onde o outro não importa.

Por Pedro C. Silva

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