segunda-feira, abril 21, 2025
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A Lenda do Monge
 do Botucaraí

Santo Monge: 
A Lenda do Monge
 do Botucaraí

Dizem que, muito tempo atrás, quando o tempo ainda era contado pelo som do vento nas copas das araucárias, um homem de passos calmos e olhar profundo apareceu na pequena vila que dormia aos pés do Cerro Botucaraí.

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Seu nome era João Maria, mas ninguém o conhecia de verdade. Diziam que era monge, curandeiro, andarilho, santo — ou tudo isso junto. Chegou com um cajado de madeira antiga e um silêncio nos olhos que só os que já viram demais carregam.

Sem fazer alarde, subiu o morro. Subiu devagar, como quem sabe o caminho. Alguns o viram de longe, como uma sombra vestida de marrom, sumindo entre a névoa das manhãs frias. Quando perguntaram para onde ia, ele respondeu apenas:

“Vou falar com Deus de perto.”

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Lá no alto, entre pedras e silêncio, escolheu uma gruta. E ali ficou.

Os moradores notaram mudanças. Os animais do mato desciam mais perto, mansos. As águas dos arroios pareciam mais limpas. E quem subia até o morro — mesmo sem saber por quê — voltava diferente: mais leve, mais calmo, como se tivesse deixado alguma dor pra trás.

Um dia, durante uma seca terrível, uma mulher subiu até o monge, desesperada por água para seu filho doente. João Maria olhou para o céu sem nuvens, sorriu leve e caminhou até uma pedra. Com seu cajado, bateu três vezes, e do rochedo seco jorrou uma nascente cristalina. Água pura, fria, viva.

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“Essa água cura o corpo de quem tem fé e o coração de quem tem sede de paz,” ele disse.

Desde então, a fonte nunca secou.

O monge viveu ali por um tempo que ninguém soube medir. Depois, um dia, simplesmente sumiu. Uns dizem que foi levado pelos anjos. Outros juram que ele se tornou parte do morro — pedra, vento, água. Mas há quem diga que, em noites de lua cheia, ainda se vê uma silhueta no topo, com o cajado brilhando ao luar.

E todo ano, na Sexta-feira Santa, centenas de pessoas sobem o Cerro Botucaraí. Não só por fé ou tradição, mas porque, no fundo da alma, acreditam que o monge ainda escuta. E que, em silêncio, continua cuidando de quem sobe até ele com o coração aberto.

 

 

 

João Maria de Agostini: O Eremita das Américas

Poucos personagens históricos percorreram tantos caminhos e tocaram tantas culturas quanto João Maria de Agostini. Nascido em julho de 1801, em Sizzano, na Itália, o monge ficou conhecido por suas longas peregrinações espirituais e pelo impacto que causou em comunidades por onde passou, desde a América do Sul até os Estados Unidos.

Agostini chegou ao continente americano em 1838, desembarcando em Caracas, na Venezuela. Nos anos seguintes, atravessou a América Andina – Equador, Colômbia e Peru – fixando residência, entre 1839 e 1841, numa montanha próxima à cidade peruana de Motupe. Ali, deixou uma cruz que viria a se tornar símbolo religioso: a Santísima Cruz de Motupe, hoje um dos maiores focos de peregrinação do país.

Em 1844, atravessou a densa floresta amazônica e chegou a Belém do Pará, de onde seguiu para o Rio de Janeiro. Viveu por um tempo no Cerro da Gávea, e depois percorreu o interior paulista, sendo registrado em Sorocaba, onde chamou a atenção por estar aleijado de três dedos da mão esquerda. Seu espírito inquieto o levou ainda mais para o sul, alcançando o Rio Grande do Sul no final daquele mesmo ano.

Entre 1845 e 1848, Agostini se fixou no Morro do Botucaraí, em Candelária, e em Santa Maria, no Campestre, onde introduziu o culto a Santo Antão – tradição que se mantém viva até hoje, com celebrações em 17 de janeiro. A região passou a ser conhecida como Campestre de Santo Antão. No entanto, sua crescente influência espiritual começou a incomodar autoridades, e em 1848 teve sua prisão decretada pelo Barão de Caçapava. Proibido de permanecer no estado, buscou refúgio em Santa Catarina e no Paraná.

Mesmo banido, o monge retornou ao Rio Grande do Sul em 1851. Foi expulso de São Borja após um sermão crítico à escravidão e ao aprisionamento de indígenas. Em 1852, buscou um passaporte para o Paraguai, sendo mais uma vez advertido pelas autoridades.

A partir de então, sua jornada tomou novos rumos. Passou pela tríplice fronteira, viveu nos pampas argentinos e atravessou os Andes até o Chile, onde traduziu a Bíblia para o espanhol. Recusou-se a se tornar sacerdote e, como sempre, manteve sua vida de andarilho. Seguiu para Bolívia, Peru e então embarcou rumo à América Central. No México, estabeleceu-se na montanha de Orizaba e novamente atraiu grande número de fiéis. A crescente popularidade chamou a atenção das autoridades locais, que o prenderam e, posteriormente, o deportaram para Cuba.

Em Havana, foi recepcionado com curiosidade e até homenageado com uma fotografia intitulada “A Maravilha do Nosso Século”, vendida como souvenir. De Cuba, partiu para Nova York e depois para o Canadá, onde encontrou frieza e incompreensão. Decepcionado, rumou para o sudoeste dos Estados Unidos, estabelecendo-se na montanha Tecolote, no Novo México – mais tarde rebatizada de Hermit’s Peak (“Pico do Eremita”).

Ali viveu entre 1863 e 1867. Mais tarde, seguiu para a vila de Mesilla, onde sua longa jornada chegou ao fim. João Maria de Agostini foi assassinado em abril de 1869, possivelmente por indígenas Apaches, num período de intensos conflitos pela posse de terras. Seu corpo repousa no cemitério católico de Mesilla, a poucos quilômetros da fronteira com o México.

 

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