No coração do Vale do Rio Pardo, onde o tempo parece correr em um ritmo próprio, uma antiga lenda continua a ecoar entre os moradores: a maldição do Monge do Botucaraí. Envolta em misticismo e memória popular, a história atravessa gerações e ainda hoje provoca debates sobre o destino da cidade de Rio Pardo.
O Monge e a Montanha
A narrativa tem início por volta de 1844, quando o misterioso monge italiano João Maria D’Agostini chegou à região. Eremita e curandeiro, ele se estabeleceu no alto do Cerro Botucaraí, próximo a Candelária. Logo, ganhou fama entre os habitantes por seus dons espirituais e pregações fervorosas.
No entanto, em 1845, ao visitar Rio Pardo, o monge teria entrado em conflito com o então Tenente-Coronel José Joaquim de Andrade Neves, que mais tarde receberia o título de Barão do Triunfo. Preso, humilhado e expulso da cidade montado de costas em um jumento, João Maria teria batido suas sandálias em sinal de maldição e proferido uma praga:
“Rio Pardo jamais prosperará enquanto houver descendentes de Andrade Neves na terra.”
Coincidência ou Destino?
Desde então, a cidade que já foi uma das mais importantes do sul do Brasil passou a experimentar uma queda contínua em sua influência política e econômica. Perdeu espaço para Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Cachoeira do Sul. A perda da sede do Batalhão Militar e do status de centro administrativo foi, para muitos, apenas mais uma evidência de que a praga teria surtido efeito.
Em 2001, numa tentativa de reverter esse destino, o então prefeito Edivilson Brum liderou uma cerimônia no topo do Morro Botucaraí. Com orações e simbolismo, buscou-se o perdão do monge e o fim da suposta maldição. Mas o misticismo permanece vivo no imaginário popular.
Uma Lenda Que Persiste
Para o historiador local Marcelo dos Santos, a lenda é uma “fábula de resistência”.
— “Mesmo que não se possa comprovar historicamente todos os detalhes, o mito do monge do Botucaraí é uma forma de a comunidade explicar suas perdas e manter viva sua identidade cultural”, afirma.
Já para outros, a história tem algo de verdadeiro:
— “Tem coisa ali. Como é que uma cidade tão antiga, tão importante, foi ficando pra trás desse jeito? Só pode ser praga mesmo!”
E Hoje?
Atualmente, Rio Pardo tenta se reinventar apostando no turismo histórico e na valorização de suas tradições. A lenda do Botucaraí é, inclusive, uma das atrações que mais despertam a curiosidade dos visitantes.
Realidade ou ficção, a maldição do monge é mais do que uma simples história: é um espelho da alma de um povo, de sua fé, suas angústias e sua luta para escrever um novo capítulo.