Com a morte do Papa Francisco, aos 88 anos, na última segunda-feira (21), a Igreja Católica entra no delicado e decisivo processo de escolha de seu novo líder espiritual. O conclave, ainda sem data oficial, reunirá até 120 cardeais eleitores no Vaticano para a eleição do 267º pontífice da história. Nos bastidores, diversos nomes já despontam como possíveis sucessores, revelando as tensões e esperanças de uma Igreja cada vez mais global.
Entre os favoritos, destacam-se figuras que expressam continuidade com o pontificado de Francisco, mas também vozes mais conservadoras que defendem um retorno a práticas e visões tradicionais.
Italianos ganham força com nomes experientes
Entre os europeus, dois cardeais italianos lideram as apostas: Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, é visto como um diplomata habilidoso e próximo de Francisco. Já Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, é apontado como o herdeiro natural da visão progressista do papa argentino. Conhecido por sua atuação junto aos pobres e migrantes, Zuppi também preside a Conferência Episcopal Italiana.
Outro nome europeu em destaque é o do francês Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, respeitado por seu diálogo com o Islã e defesa dos direitos humanos.
Representantes do Sul Global crescem
Com mais da metade dos católicos vivendo fora da Europa, cresce a expectativa de que o novo papa venha do chamado Sul Global. Luis Antonio Tagle, das Filipinas, é um dos nomes mais comentados. Carismático, jovem e ligado ao Dicastério para a Evangelização, Tagle representa um rosto acolhedor e missionário da Igreja na Ásia.
Na África, dois cardeais se destacam: Fridolin Ambongo Besungu, da República Democrática do Congo, que atua fortemente em temas sociais e ambientais; e Peter Turkson, de Gana, figura influente nas discussões sobre justiça climática e ética econômica.
Outras possibilidades
Também são citados o conservador Robert Sarah, da Guiné, e o húngaro Peter Erdő, especialista em direito canônico. Ambos são considerados mais alinhados à tradição doutrinária da Igreja e podem atrair apoio de cardeais que desejam uma guinada mais conservadora após Francisco.
Surpresas não estão descartadas. Um nome em ascensão é o do ucraniano Mykola Bychok, bispo de Melbourne, com apenas 45 anos. Representante da nova geração de prelados, é admirado por sua formação intelectual e pastoral moderna.
E os brasileiros?
O Brasil, maior país católico do mundo, conta com cinco cardeais eleitores: Dom João Braz de Aviz, Dom Odilo Pedro Scherer, Dom Orani João Tempesta, Dom Paulo Cezar Costa e Dom Jaime Spengler. Embora nenhum esteja entre os mais cotados, sua presença no conclave é estratégica, reforçando a voz da América Latina no processo.
Continuidade ou ruptura?
O futuro papa herdará os desafios enfrentados por Francisco: escândalos de abuso, queda no número de fiéis na Europa, tensões internas e a necessidade de diálogo com o mundo moderno. A escolha do sucessor pode significar a continuação das reformas iniciadas por Jorge Mario Bergoglio — ou uma reorientação mais conservadora, refletindo as diferentes correntes dentro da Igreja.
A fumaça branca que sairá da Capela Sistina nos próximos dias anunciará mais do que um nome: será o sinal do rumo espiritual e político da Igreja Católica nos anos por vir.