sexta-feira, maio 3, 2024
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Breno Pires Moreira

Bom dia amigos leitores

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* Capítulo 7 – Dia 07 da viagem (13/02/24) – Segunda-feira

Então foi assim: no final do sétimo dia de nossa viagem chegamos a nosso destino central que seria a cidade de São Pedro de Atacama, no coração do Deserto de Atacama, Chile. Não sem antes passar por paisagens maravilhosas e experiências que, certamente, ficarão registradas pelo resto de nossas vidas… Mas não será nesta coluna que chegaremos, ahahahahah.

* Paso Jama 1

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É o ponto fronteiriço de montanha entre Argentina e Chile (para quem vai, pois para quem vem é Chile e Argentina, kkk), na região de quem viaja para o Deserto de Atacama. Fica na Ruta Nacional 52, e está a 4.200m de altitude.

No Passo Jama está a alfândega chilena onde todas as pessoas que pretendem entrar no Chile são obrigadas a passar e apresentar, em cinco guichês ou etapas diferentes, os documentos pessoais e do veículo. Além disso, fazem vistoria nas bagagens pessoais e nos veículos (é proibido entrar no Chile com alimentos e produtos in natura, alguns tipos de bebidas, etc.). Lá ficamos quase duas horas até sermos liberados.

* Paso Jama 2

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Conforme já mencionei semana passada, alguns quilômetros antes de Passo Jama nossa companheira chuva se fez presente. Como estávamos no deserto, e a temperatura (antes da chuva) estava em torno dos 30°, apenas pusemos as capas de chuva sobre as roupas que estávamos e continuamos…

Pois bem, assim que a chuva começou a cair, a temperatura começou a cair também, e de forma vertiginosa. Com isso, ao chegarmos em Passo Jama, uns trinta minutos depois que a chuva começou, já estávamos com temperatura em torno dos 10°. E cairia ainda mais, antes mesmos de passar a fronteira…

Dispensados na alfândega após duas horas de espera (o Chico ainda teve que abrir os alforjes e bagageiros da moto para ter o conteúdo vistoriado, mas quando o fiscal – muito antipático, por sinal, olhou as amarrações de minha bagagem acabou desistindo, kkk) seguimos finalmente para nosso destino do dia: São Pedro de Atacama. A temperatura já estava em torno dos 7°.

* Mais belezas, e esta especial…

Saímos então da fronteira – Passo Jama e o que era uma chuva tornou-se chuvarada, com as nuvens literalmente pretas sobre a rodovia que seguiríamos. E a temperatura caiu mais ainda… E para pintar o mais belo, porém mais apavorante quadro da natureza por que passei na vida, ao longo desses mais de sessenta anos bem vividos, começamos a subir: saímos de Passo Jama com 4.200m e subimos uma montanha com mais de 4.600m, abaixo d’água. Não preciso dizer que a essas alturas as mãos já estavam dormentes de frio, e o visor do capacete, por melhor que fosse, estava constantemente embaçado, precisando ficar com uma fresta aberta, apesar de todo frio…

Foi então que em determinado momento ouvi um grande estalo, semelhante ao que se ouve quando se dá uma forte chinelada em um piso de concreto (essa foi exatamente a lembrança que tal estalo me trouxe) e, numa fração de segundos, toda a paisagem ficou branca, o visor do capacete ficou opaco e a bolha da moto (parabrisa) “trincou” (na verdade congelou)… E começou a nevar… Pensa numa neve…

Tudo branco, montanhas, rodovia, acostamento, vale entre as montanhas, e nós ali, motoqueando, semi-molhados, mãos congelando… e a neve caindo; e caindo mais e mais…

* O belo também pode impor medo…

Eu não conhecia neve e, neste primeiro momento, achei sensacional… Até levantei o visor do capacete para experimentar a sensação de neve no rosto. Porém, alguns segundos depois comecei a me preocupar: e se a rodovia congelasse sob a nevasca, como ficaríamos, visto que não poderíamos continuar rodando? Morreríamos congelados, visto que estávamos ainda com as roupas que usamos no deserto, apenas com a proteção das capas de chuva? E se aumentasse a precipitação de neve? Minha preocupação tinha fundamento, pois alguns dias antes um motociclista de Minas Gerais que encontramos em Corrientes nos disse que Paso Jama havia ficado fechado por dois dias na semana anterior, pois a rodovia tinha congelado. Além disso, eu não sabia como o parceiro Chico estava, pois em determinado momento olhei para trás e vi apenas um vulto branco trafegando há uns metros atrás de mim (e olha que nossas capas de chuva são pretas…). E as mãos congelaram (ao menos era essa a sensação, pois não consegui mais mover os dedos). Daí que a alegria por ver a neve deu lugar ao medo, e o medo cedeu seu espaço para o pavor… Olhei para meus braços, colo e bagagem e havia substancial quantidade de neve acumulada… Ao pavor juntou-se a agonia…

Foi então que o Chico ligou o pisca-alerta da moto, nosso código para informar que queremos parar, e ao pavor e à agonia juntou-se o pânico, pois se tivéssemos que parar ali, eu acreditava seriamente que morreríamos congelados… Após um rápido e intenso colóquio o Chico me disse que não queria parar, mas sim ser visto, principalmente por algum veículo que poderia vir atrás e não enxerga-lo…. Felizmente fazia sentido, pois naquela brancura toda era possível mesmo que algum motorista de carro ou caminhão pudesse não nos ver… Decidimos então tocar adiante para sair da montanha ou de baixo daquela nuvem… E assim fomos, viramos o cabo (aceleramos bastante), com o medo incentivando e favorecendo a imprudência, e por mais uma eterna meia-hora e as mãos já imóveis de tanto frio que, enfim, vislumbramos uma nesga de sol no horizonte. Mais uns quinze minutos e começamos a sair da montanha, sendo a neve substituída por chuva… E mais um pouco a chuva cessou, apesar de o frio continuar… Com as mãos semicongeladas paramos no acostamento…

* Usina fria

Minha moto, uma Harley Davidson 1200cc, refrigerada a ar, é famosa por ter um motor que esquenta muuuuito. Tanto que não se aconselha a andar nela de bermudas… Pois bem, parados no acostamento, com o motor ligado há vários minutos e as mãos sobre o mesmo e sobre o escapamento, e nada de esquentar, ou melhor, nada de descongelar… E assim ficamos por vários outros minutos…

* Não fomos os únicos…

Já estávamos desistindo de “descongelar” as mãos no motor da moto quando chegou outro motociclista que saíra de Paso Jama logo depois de nós. Parou uns minutos ao nosso lado, tentou descongelar as mãos na minha moto também e não aguentando o frio resolver seguir viagem. Disse-nos ele: “_ achei que eu ia congelar… no navegador da moto (tipo um GPS) marcou -5° (menos cinco graus…)”. Subiu na moto e se foi… Logo em seguida chegou um casal, estando a motociclista com expressão de muito apavorada. O marido se divertia: “_ela achou que íamos congelar, ahahahah”. Não foi só ela… não foi só ela…

* C₉H₁₃N₃

Hormônio secretado pela medula das glândulas suprarrenais e fundamental no mecanismo da elevação da pressão sanguínea; importante na produção de respostas fisiológicas rápidas do organismo aos estímulos externos (internet).

Assim, com essa descrição começamos a receber, alguns minutos depois de parar no acostamento, as descargas de adrenalina; e foi uma tremedeira intensa e duradora que certamente não era só por causa do frio; tudo tremia: cabeça, ombro, joelho e pé (e membros e tronco)… Deve ter sido muito engraçado eu e o Chico parados no acostamento, gelados e tremendo feito vara verde ao vento… Essa tremedeira durou vários minutos…

Segundo o Dr. Google, a adrenalina é um hormônio neurotransmissor que prepara o nosso corpo para as mais diferentes situações de estresse ou risco e ativa o nosso corpo, estimulando o coração, a sentir aquela sensação de satisfação e de êxito quando atingimos algo inesperado. E foi exatamente isso que sentimos.

* Licancabur

Depois da montanha, da neve e do frio, já descendo em direção à São Pedro de Atacama, avistamos outro ponto turístico da região, o vulcão Licancabur, um vulcão de quase 6.000m de altura próximo à rodovia e à cidade de São Pedro do Atacama, que segundo o Dr. Google teve sua última (e pequena) erupção em 2015.

Pausa para as fotos, um pouco ainda de tremedeira reflexo da adrenalina e seguimos, então, para a cidade de destino, São Pedro de Atacama, que ficava ao final de uma reta em declive de mais de 10km… Sensacional também… E chegamos!

As impressores sobre a mais clássica cidade do deserto mais seco do mundo ficam para a próxima coluna.

Bom fim de semana e até à próxima, se Deus quiser.

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