sexta-feira, abril 18, 2025
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As pedras gritarão

Com ramos, flores e cânticos, no próximo domingo, o povo cristão se reúne nas ruas e templos para aclamar seu líder manso e humilde, nem mito, nem capitão. Ele vem ao nosso encontro manso e pobre, montado num jumento. Só alguém infinitamente grande é capaz de fazer-se tão pequeno e tão próximo! Deus se recusa a dar algo à humanidade: ele se dá inteiramente e sem reservas em Jesus de Nazaré.

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Para entender o relato da entrada de Jesus em Jerusalém precisamos abandonar as fantasias de poder e sucesso que nos seduzem e cegam. Não há nada de triunfal na cena descrita por Lucas (19,28-40). Nada de cortejos de honra, nem de generais e cavalos, nem gestos de cortesia protocolar. Jesus de Nazaré chega a Jerusalém depois de uma decisão firme e de uma longa caminhada. E não chega impondo taxas e ameaçando meio mundo, como se fosse senhor de tudo e de todos.

Jesus faz questão de entrar na cidade montado num jumento. O povo do campo e da zona periférica da capital o aclama como filho e herdeiro de Davi. “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!” É um coro de pessoas que reconhece num profeta e sonhador incômodo, rejeitado e considerado subversivo e perigoso, o Enviado de Deus. Àqueles que reagiam com medo e indignação a esta aclamação popular, Jesus mesmo responde: “Se eles se calarem, as pedras gritarão!”

Olhando a cidade ainda de longe, Jesus chora. Lamenta o seu fechamento à profecia e seu apego às rígidas tradições. Denuncia a violência dos podres poderes de ontem e de hoje, sejam eles Pilatos, Cesar, Trump, Putin, Zelensky ou Netanyahu… Ele é o servo paciente e discípulo da Palavra do qual fala Isaías (50,4-7). E é dessa escuta que brota uma palavra que desperta e encoraja as pessoas acorrentadas pelo medo.

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Jesus, porém, não realiza as ações poderosas que muitos esperavam. Entrando em Jerusalém montado num jumento, ele se faz uma sátira aos libertadores militares, conhecidos no passado e temidos no presente. O entusiasmo suscitado num pequeno grupo não dura muito tempo. Os gritos de ‘hosana’ logo serão substituídos pelo insolente ‘crucifica-o’. Sereno e forte, Jesus faz questão de demonstrar que é um Messias radicalmente diferente: pobre e pacífico.

Depois da acolhida festiva pelo povo da periferia e da ceia de despedida com seus discípulos, Jesus enfrenta um discernimento difícil e pede aos discípulos que fiquem com ele e vigiem.  Sua oração é um exercício de confronto profundo com a vontade do Pai, com a missão escrita em caracteres obscuros e exigentes. Jesus se sentirá abatido, e chegará a se perguntar qual direção deve tomar. Mas nem a divisão entre os discípulos e os sinais anunciadores de traição o fazem mudar o rumo.

Neste Domingo de Ramos, aclamemos com serena alegria o mestre e profeta Jesus de Nazaré. Como peregrinos de Esperança, acompanhemos de perto seus passos, acolhamos seus gestos, escutemos suas lições. Não caiamos na tentação de segui-lo apenas de longe ou quando for conveniente. Não deixemos às pedras a missão de aclamar e profetizar. E não esqueçamos que tantos outros discípulos permaneceram com ele, comungaram seu destino e se tornaram semente.

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Dom Itacir Brassiani msf

Bispo diocesano de Santa Cruz do Sul

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