sexta-feira, maio 9, 2025
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“Para quem deu à luz não tem mais jeito…”


Mal acabou o fuzuê das compras e viagens que envolvem a páscoa, as vitrines e telas nos interpelam e nos seduzem com apelos para reconhecer e monetizar o amor daquela que nos gerou e retribuir sua dedicação tão fundamental, mesmo que seja em suaves e infinitas parcelas mensais. Afinal, “a mãe é a rainha do lar”, seu amor é incomparável, e nossos débitos com ela podem ser amortizados com alguns presentes…

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A verdade é que nessas ocasiões, é difícil não inflacionar a linguagem e os sentimentos, tão superficiais quanto estereotipados. A idealização da figura da mãe no seu dia comercial não se envergonha de dar as mãos à indiferença, à exploração e ao desprezo nos demais 364 dias do ano. Mas o comércio precisa faturar, e se o resultado do ano não superar os anos passados, o sol pode não brilhar e a chuva pode não cair sobre a terra…

À margem dessa badalação oportunista, precisamos colocar no centro das nossas atenções e celebrações a figura e o papel essencial da mãe no desenvolvimento sadio e integrado dos filhos e filhas. A geração no útero e a maternidade biológica não são tudo, e podem inclusive ser fruto do acaso. O que conta é a maternidade afetiva, a decisão de ser mãe e de assumir esse papel social no coração, com todas as suas consequências.

Erasmo Carlos, numa das suas belas composições, diz que ser mãe supõe ser forte a ponto de abandonar a ideia de tranquilidade e de autonomia absolutas: “Quando eu chego em casa à noitinha quero uma mulher só minha. Mas, para quem deu à luz não tem mais jeito, porque um filho quer seu peito, o outro já reclama a sua mão, e o outro quer o amor que ela tiver… Quatro homens dependentes e carentes da força da mulher”.

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A propósito, vem-me à lembrança um episódio narrado no Segundo Livro dos Macabeus (7,1-42). Sete irmãos foram presos e torturados junto com a mãe por terem se recusado a romper com as tradições que os vinculavam ao próprio povo. A mãe, mesmo sob o risco de ver os sete filhos serem mortos num só dia, se manteve firme e encorajou filhos a fazer o mesmo. Segundo a Bíblia, ela uniu a ‘força viril’ com a ‘ternura feminina’ (cf. 2Mac 7,21).

Ela dizia aos filhos: “Não sei como viestes a aparecer no meu ventre, nem fui eu quem vos dei o espírito e a vida. Também não fui eu quem deu forma a cada um dos vossos membros. Por isso, o Criador do mundo, que formou o ser humano no seu nascimento e dá origem a todas as coisas, ele, na sua misericórdia, vos restituirá o espírito e a vida. E isto porque, agora, vos sacrificais a vós mesmos, por amor às suas leis” (2Mac 7,22-23).

Por trás dessa memória popular, certamente idealizada, subjazem importantes traços da figura da mãe. Esses traços relativizam o “oceano de ternura” que, com resquícios infantis e de desejos imaturos, costumamos ressaltar. A formação do caráter dos filhos a partir de princípios éticos essenciais é um desses traços. A renúncia à posse e ao controle possessivo dos filhos é outro aspecto importante. Não menos transcendentes são a insubmissão aos “podres poderes” dos machos de plantão, assim como a prudente distância frente às novidades culturais, que podem esconder venenos desagregadores.

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