Rosibel Fagundes
O corpo do Papa Francisco será sepultado na manhã deste sábado, 26 de abril, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. O sepultamento começará às 10h, no horário local (5h de Brasília) e contará com forte esquema de segurança em Roma. A cerimônia de despedida é marcada com encerramento da Missa de Exéquias, celebrada diante de milhares de fiéis e autoridades religiosas. Desde a manhã do dia 23, o corpo permaneceu em visitação pública na Basílica de São Pedro, onde multidões se reuniram em oração e homenagem. Com o funeral, teve início oficialmente o período de luto de nove dias, conhecido como Novendiali.
O mundo amanheceu em silêncio e comoção na segunda-feira, 21 de abril, com o anúncio da morte do Papa Francisco, aos 88 anos. Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta da história da Igreja, ele faleceu em sua residência no Vaticano, vítima de complicações de uma pneumonia dupla. O comunicado oficial foi feito às 7h35 (horário local), pelo camerlengo da Santa Sé, cardeal Kevin Joseph Farrell, na Capela da Casa Santa Marta.
“É com profundo pesar que comunico a morte de Sua Santidade Papa Francisco. Um homem que viveu inteiramente para servir, amar e evangelizar”, declarou Farrell.
A morte ocorreu um dia após a celebração da Páscoa, na chamada “Segunda-feira do Anjo” — data litúrgica que remete ao anúncio da ressurreição de Cristo. Muitos fiéis enxergaram simbolismo espiritual na coincidência.
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, em 1936, filho de imigrantes italianos. Técnico em química, ingressou jovem no seminário e foi ordenado padre aos 32 anos. Tornou-se arcebispo da capital argentina e, em 2013, foi eleito Papa após a renúncia de Bento XVI. Escolheu o nome “Francisco” em homenagem a São Francisco de Assis, inspirado pela frase do cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes: “Não se esqueça dos pobres.” Seu pontificado foi marcado por uma liderança simples, próxima dos marginalizados, defensora da criação e da dignidade humana.
Última mensagem: um apelo pela paz
Mesmo debilitado, o Papa Francisco fez questão de deixar sua última mensagem ao mundo durante o Domingo de Páscoa. Lida por Monsenhor Diego Ravelli, a declaração emocionou os fiéis com um forte apelo ao desarmamento e à fraternidade entre os povos:
“Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento”, dizia o texto.
Relação com o Brasil e o Rio Grande do Sul
Francisco manteve laços próximos com o Brasil. Sua primeira viagem apostólica foi ao país, em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Seu encontro com o menino Nathan de Brito — que declarou o desejo de ser padre — emocionou o mundo. Hoje, Nathan é postulante à vida religiosa.
Em 2024, diante das enchentes no Rio Grande do Sul, o Papa destinou recursos da Esmolaria Apostólica às vítimas e telefonou pessoalmente para o arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler. “Em meio ao caos, recebei um telefonema, era Francisco. Fiquei sem palavras. Sempre perguntava pelo nosso Estado”, contou o cardeal, lembrando os vínculos do Papa com Pelotas e São Leopoldo.
Legado duradouro
O legado do Papa Francisco permanece vivo nas suas encíclicas, na defesa dos pobres, no diálogo com outras religiões e nos gestos concretos de amor e simplicidade. Em nota oficial, a CNBB declarou:
“Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”
Conclave e sucessão
Com a morte de Francisco, a Igreja entra no período de Sede Vacante, ou Interregno Papal — o intervalo entre o falecimento de um pontífice e a eleição do sucessor. Durante esse tempo, o camerlengo assume a administração da Santa Sé. Os cardeais com menos de 80 anos devem reunir-se em Conclave nas próximas semanas, na Capela Sistina.
Dos 135 cardeais eleitores, sete são brasileiros:
Dom Leonardo Ulrich Steiner (Manaus)
Dom João Braz de Aviz (Brasília)
Dom Paulo Cezar Costa (Brasília)
Dom Orani Tempesta (Rio de Janeiro)
Dom Odilo Scherer (São Paulo)
*Dom Jaime Spengler (Porto Alegre) – arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB
Dom Sérgio da Rocha (Salvador)
Missa de Sufrágio na Diocese de Santa Cruz do Sul
Na noite da última quinta-feira, 24, a Diocese de Santa Cruz do Sul celebrou uma Missa em Sufrágio pela alma de Francisco, na Catedral São João Batista. A cerimônia foi presidida por Dom Itacir Brassiani e concelebrada por Dom Aloísio Alberto Dilli, bispo emérito, junto a outros sacerdotes da região.
Durante a homilia, Dom Itacir relembrou com emoção o momento em que Bergoglio foi anunciado como Papa, em 2013.
“Eu estava em Roma naquele dia, 13 de março de 2013. Saía de uma palestra, atravessei a Praça de São Pedro, lotada de fiéis e curiosos, deixei algumas cartas no correio do Vaticano e voltei para casa. O Padre Edmund, já abrindo a porta para sair, anunciou que o Conclave havia eleito um novo Papa (…). Fiquei surpreso quando foi anunciado que Dom Jorge Mario Cardeal Bergoglio era o nome escolhido. A surpresa foi ainda maior — agora recheada de esperança e expectativa — ao ouvir que ele escolhera o nome de Francisco. Os breves minutos que se seguiram me levaram às lágrimas”, destacou.
Já Dom Aloísio partilhou um gesto tocante, ao relembrar de seu encontro com o Papa Francisco, ocorrido em maio de 2022, em Roma:
“Foi bem no momento em que ele começou a usar a cadeira de rodas. Tivemos a surpresa de que, ao chegar ao local onde estávamos, os bispos do Rio Grande do Sul, éramos 26 pessoas, o Papa fez questão de levantar-se da cadeira de rodas para abraçar e saudar um por um. Tive a alegria de representá-los e dizer: ‘Trago saudações e muitas preces do povo da Diocese de Santa Cruz do Sul.’ Ele agradeceu e disse: ‘Leve a todos a minha bênção’. O Papa era uma pessoa muito simples e muito acolhedora”, disse.
Ao final da celebração, os fiéis foram convidados a rezar pela Igreja, agradecendo pelo legado do Papa Francisco. Também foi feito um apelo para que o Espírito Santo ilumine os cardeais na escolha do novo Papa, conduzindo a Igreja com sabedoria e paz neste tempo de transição.
Uma Missa de Sufrágio também havia sido realizada na segunda-feira, 21, no dia do falecimento do papa. A celebração também realizada na catedral São João Batista, foi presidida por Dom Aloísio Dilli.