Especialista fala sobre as semelhanças nos sintomas das doenças
Rosibel Fagundes
A tragédia climática no Rio Grande do Sul que já afetou mais de 440 cidades pelas chuvas, além do rastro de destruição poderá trazer sérias consequências como surtos de doenças como a leptospirose e dengue. Por conta de alagamentos e enchentes, que pode levar dejetos e fezes, aumenta o risco de se contrair a leptospirose. Outra preocupação é com a piora do cenário da dengue — desde março o estado está em meio a uma pandemia, e com a grande quantidade de chuva e de acúmulo de resíduos (recipientes, como pneus, garrafas, latas e vasos), torna-se a condição ideal para a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
O médico infectologista Marcelo Carneiro, alerta que os sintomas da leptospirose e da dengue são muitos similares. “Tanto a dengue quanto a leptospirose apresentam sintomas iniciais muito semelhantes como dor de cabeça, febre alta e dor muscular. A leptospirose, quando a gente não tem o quadro clínico, porque a coleta de exames demora e é feita somente uma semana depois, a gente descarta inicialmente que a pessoa esteja com dengue. Porque não existe um tratamento específico, tem que pensar em Leptospirose e iniciar antibiótico”, explica.
Conforme ele, quanto mais cedo tratar a doença menor os riscos de complicação. “Febre, dor muscular, dor no corpo, pode até ter alterações na pele, mas descartado a suspeita de dengue ou influenza, por exemplo, tem que iniciar o tratamento para Leptospirose e antibiótico. Se não tratada, a leptospirose, que é uma doença no rim, pode ocasionar em hospitalização, hemodiálise e tudo mais”, esclarece.
Leptospirose
A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda causada pela bactéria do gênero Leptospira, comumente adquirida através do contato com água ou solo contaminados direta pela urina de animais (principalmente ratos) infectados. Os sintomas podem variar de 7 a 14 dias para uma 1ª manifestação, em alguns casos o início dos sinais se dá até 1 mês depois do 1º contato com a bactéria. Os principais sintomas são: febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo (em especial, na panturrilha) e calafrios. Em alguns casos, a leptospirose pode progredir para uma forma mais grave, levando a complicações sérias que podem resultar em morte.
Para evitar a transmissão, a orientação é que quando possível, as pessoas utilizem botas e luvas onde vier a ocorrer o contato com água suja ou lama. Caso ocorra o contato com a água sem esta proteção, é importante sempre lavar com água abundante e sabão as partes do corpo que entraram em contato com água que pode estar contaminada com a urina do rato, e procurar atendimento médico antes mesmo de esperar surgirem os sintomas.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) divulgou uma Nota Técnica conjuntamente com a Sociedade Brasileira e Gaúcha de Infectologia, no último dia 06, que recomenda a quimioprofilaxia — mas com avaliação médica, sem automedicação — contra a leptospirose para pessoas que estiveram expostas à água de enchente por período prolongado: tanto moradores quanto voluntários de resgate.
Dengue
A dengue é uma doença febril aguda, sistêmica e dinâmica, variando desde casos assintomáticos a quadros graves, inclusive óbitos. Normalmente, a primeira manifestação da doença é febre alta, que dura de dois a sete dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, além de prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos e manchas vermelhas na pele. É transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes Aegypti. A melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito, eliminando água armazenada que podem se tornar possíveis criadouros, como em vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas. Desde janeiro, o RS já registra mais de 105 mil casos confirmados de dengue e 131 óbitos.