Bom dia amigos leitores
O assunto é polêmico. E não se esgota. E já tratei dele aqui.
Daí que o título inicial desta coluna poderia ser: “quando as coisas que deveriam ser usadas para o bem acabam mal usadas e causando mais mal do que o previsto ou desejado”.
Também poderia ser um título assim: todos os excessos, tanto para o bom ou bem quanto para o ruim ou mal, são prejudiciais.
Ou: se não há controle, a falta dele (de controle) deve ser tratada de forma intensa e objetiva.
Ou então: proibir nunca é o melhor remédio; porém às vezes é necessário. Que proibir seja a exceção então, nunca a regra…
* O uso de celulares nas escolas
Avolumou-se nos últimos dias a mobilização da classe política brasileira no sentido de criar leis que proíbam, de forma definitiva, o uso do celular no âmbito das escolas, em quaisquer dos níveis de escolarização. É uma tendência, e tal iniciativa já se alinha com o que tem sido decidido em muitos países.
Esta semana o estado brasileiro que eu soube adotar tal medida foi São Paulo. É proibido portar e, óbvio, usar telefone celular durante as aulas nas escolas paulistas.
E para fortalecer a ideia de que tal proibição tem sido acertada, algumas análises e avaliações sumárias já apresentam considerável mudança, para melhor, no comportamento dos alunos e no seu aproveitamento escolar. Então acredito que essa iniciativa vai se ampliar.
* Mas por que proibir?
Sim, essa pergunta é necessária.
Como todos já sabem, eu sou terminantemente contra todas as medidas que, no âmbito da educação, venham por imposição, ou seja, sejam implantadas “de cima para baixo”, sem discussão com os interessados e, ao fim, com a comunidade escolar.
O problema é que se perdeu o controle!
Quando ocorre de não se poder mais conviver com uma situação, como o uso desenfreado de celulares, por exemplo, isso em todo e qualquer lugar e a qualquer hora, as negociações e os exercícios de convencimento para a necessidade de se contornar o problema acabam perdendo muito de suas possibilidades. Então, se não se consegue chegar a um meio-termo, se as partes se tornam intransigentes, o jeito é proibir mesmo.
O celular, que seria um ótimo instrumento de apoio pedagógico em uma escola, não é usado, no âmbito escolar, sempre para esse fim, pelo contrário. Basta o professor querer usar o celular para um trabalho que, imediatamente, o alunos vão usá-lo para redes sociais, conversas, assistir vídeos descontextualizados. É isso ou não é? E os professores ficam impotentes para fazer com que os alunos usem seus celulares apenas para fins interessantes à sala de aula. Volto a dizer: não há como controlar; não há bom senso por parte dos alunos e nem como os professores evitarem o uso dos aparelhos para outros fins. Então a alternativa é proibir mesmo, de forma geral e irrestrita.
Se os adultos não têm consciência sobre o uso racional do celular, o que esperar dos jovens?
* Manifestação de alguns professores
Conversei com alguns professores sobre o assunto e ouvi de uma colega: na minha aula eu mando, os alunos obedecem, e a gente usa o celular apenas para trabalhar. Conhecendo a professora como conheço, eu acredito mesmo que isso ocorra. Quando eu lecionava, isso também ocorria. Porém, tal autoridade é uma exceção, infelizmente. A maioria dos professores não tem tamanho controle de turma, não consegue desenvolver sua autoridade, não têm poder de negociação com os alunos, e daí a coisa degringola. Novamente a alternativa é proibir.
Os professores que têm autoridade acabam sendo prejudicados? Com certeza! Mas como as regras têm que ser a mesmas para todos, não há como ser discricionário nessa proibição. Daí que os bons acabam pagando pelos ruins. Se não, vai ser um tal de “por que tu não deixa se fulano deixa?”…
Mas tem outra questão…
* E os professores, não usam celulares na escola fora das necessidades escolares?
Claro que usam!
Professores saem das aulas para atender telefone, fazer chamadas, mandar mensagens, fazer negócios outros, frequentar as redes sociais… infelizmente isso é muito comum.
Então, eu entendo que a proibição tem que atingir os mestres também. Até por uma questão de coerência: se os alunos não podem, os professores também não devem poder. São os princípios iniciais da autoridade e da legitimidade.
E mais uma vez os professores bons pagarão pelos maus. É o preço de se viver em uma sociedade onde ética, moral e profissionalismo são elementos de somenor importância.
* As pessoas estão doentes…
Isso mesmo amigo leitor: o celular tornou-se um vício, uma doença extremamente grave. Digo mais: é quase uma doença degenerativa! E para essa situação somente tratamentos mais intensos poderão, até certo ponto, reverter o quadro de debilidade mental e moral dos usuários.
As pessoas não fazem mais nada, nadinha, sem estar com seus celulares na mão.
Cotidianamente eu passo por pessoas dirigindo veículos em estradas e rodovias ao mesmo tempo que usam o celular, pondo em risco não apenas as suas vidas, mas as nossas também…
Certa feita eu disse para uma mãe que não via problema nisso: olha, se tu pôr em risco tua vida e a dos teus filhos, isso não me diz respeito, pois diz respeito a ti e à sociedade; agora, quando tu põe em risco a minha vida e a de minha filha, bom, daí o problema já é meu e eu preciso resolver… Pronto, arrumei uma antipatia. Temos que aceitar como normal alguém dirigir e usar o celular ao mesmo tempo?
Jovens deixam de comer, de trabalhar, de tomar banho, de estudar para ficar no celular… Esquecem princípios sociais elementares como pontualidade, respeito, educação, por que o foco está na “telinha”. Isso é normal? Claro que não; isso é doença!
Existe até uma síndrome de abstinência que algumas (muitas) pessoas têm quando ficam um tempo sem usar o celular…
Então é doença mesmo!
* E a família, onde entra nessa questão?
Ora, a família está na mesma situação que a escola: perdeu totalmente o controle; não tem poder e não sabe como proceder para refrear o uso indiscriminado do celular no âmbito dos lares.
Lembro que quando eu era diretor de escola alguns pais chegaram a me procurar para pedir que eu interviesse junto a seus filhos para que não usassem tanto o celular… Quando a coisa chega a esse ponto é por que a autoridade familiar também está comprometida.
* Uma pena
Mas a proibição é uma pena.
Uma tecnologia que deveria servir muito para o crescimento e desenvolvimento das pessoas, para tornar e educação escolar atrativa, rica e ampla, acaba por tornar (as pessoas) dependentes e ética e moralmente comprometidas, como são, a propósito, os viciados em qualquer outra droga.
Basta dar uma volta em nossas cidades para ver pessoas caminhando na rua como zumbis, de olho no celular… Isso é normal? Claro que não. Isso é doença; é vício. Estamos diante de uma nova pandemia.
É nessa situação, e somente por que a vejo como extremamente grave, que vislumbro e aplaudo como solução, ou parte dela, a proibição do uso de celulares nas escolas. Infelizmente! E isso é apenas o começo.
O que o amigo leitor pensa a respeito?
Bom fim de semana e até à próxima, se Deus quiser.
PS. Parabéns à República Federativa do Brasil. Salve o 15 de Novembro. Salve nossa democracia que, apesar dos pesares e de tantas mazelas de nossa classe política, continua sendo melhor do que qualquer ditadura. Clap-clap-clap (aplausos).