Memórias
3º Lugar – A cada contração, uma nova força –
Aluna Emily Fernanda da Silva Santos
– Professora Orientadora Alexandra, 7º ano escola Nero
A cada contração, uma nova força
Em Vila Melos, em um pequeno refúgio em frente a um pé de bergamota, as tempestades não eram apenas fenômenos naturais, eram partes de nossas vidas. Eu esperava por Sandra, com o peso da gravidez e a responsabilidade de Fátima, minha filha de seis anos, sempre ao meu lado. Minha vida era marcada pelo trabalho de faxineira, onde minha patroa fazia regras severas, desprezando as necessidades de uma mãe. Fátima sentava-se na porta, entretida com a imaginação, enquanto eu lutava para manter a casa em pé com o salário de um vendedor ambulante que nunca era suficiente.
Naquela noite, os trovões ecoavam como se o céu estivesse junto do meu sofrimento. O cheiro da terra molhada trazia memórias da minha mãe, que me ensinou a fazer a cruz de sal para espantar a tempestade. A dor crescia, uma força avassaladora que me fazia duvidar se conseguiria chegar ao fim daquela jornada. A água suja chegava até meus joelhos, enquanto eu buscava abrigo sob um pé de bergamota, sentindo a força da natureza em meu próprio corpo.
Quando Joana, a parteira, finalmente chegou, o mundo ao meu redor parecia girar. Apaguei, e ao acordar, a dor se acabou. Sandra estava ali, com seus olhos negros e cabelos brilhantes, fazendo eu ver a luta e a esperança que compartilhávamos. Naquele instante, percebi que, mesmo nas tempestades mais fortes, o amor venceria.
Hoje, ao olhar para as inovações e os cuidados médicos que traz a maternidade, lembro-me do que vivemos em Vila Melos. As dificuldades eram grandes desafios, em cada chuva forte. As lutas do passado e do presente, lembram-me que, apesar das tempestades, sempre encontramos forças para recomeçar.