Bom dia amigos leitores
* Coisa da educação
O Governo do estado do Rio Grande do Sul vai ampliar, a partir deste ano, o sistema de progressão parcial para os alunos reprovados na rede estadual de educação. Essa inciativa tem como causa o alto índice de reprovações de estudantes, em especial no Ensino Médio.
Atualmente, pelo sistema de progressão parcial, o aluno que reprova em uma ou duas disciplinas é aprovado para a série seguinte sob o compromisso de, paralelamente aos estudos dessa nova série, se dedicar a estudos de recuperação das disciplinas que reprovou no ano anterior. A progressão parcial é o avanço do aluno reprovado para a série seguinte, suprindo, ao mesmo tempo, a série para o qual avançou e os componentes curriculares, disciplinas, objeto de sua reprovação. Assim, o aluno reprovado em uma ou duas disciplinas tem a chance de, no ano seguinte, recuperar tais disciplinas de reprovação ao mesmo tempo em que busca a aprovação na nova série.
Agora, pela ampliação que está sendo proposta, o aluno poderá reprovar em até duas disciplinas de até duas áreas curriculares. Amplia-se bastante o número de disciplinas que o aluno poderá ser reprovado para poder usufruir do direito à progressão parcial.
A SEDUC – Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul fez a apresentação desta ampliação no início deste ano.
* Medida justa
Particularmente, eu vejo a progressão como um ideia (e uma prática) que se apresenta interessante e importante, pois, afinal, deve ser oportunizado aos alunos que recuperem suas aprendizagens de forma a conceber essa recuperação como algo que faz parte de um processo. A reprovação é, na verdade, uma ruptura, uma interrupção desse processo regular de escolarização; sem falar que é um enorme retrocesso. Nada melhor, então, do que possibilitar ao aluno essa recuperação sem que tenha que repetir o ano, pois isso, repetir o ano, é uma enorme perda de tempo, além dos altos custos que a reprovação representa.
Porém (e sempre há poréns), na prática a coisa não funciona bem assim…
* O sistema de progressão já é adotado
Como eu disse acima, esse sistema de progressão já é adotado na rede pública estadual para alunos que reprovam em até duas disciplinas, independentemente de qual área de estudos ou área curricular elas pertençam.
Reprovou, rodou, foi retido em até duas disciplinas, o aluno é aprovado automaticamente e, no ano seguinte, precisará fazer estudos compensatórios ou recuperatórios.
* Entrevista
Esta semana a Secretária de Educação do Rio Grande do Sul concedeu diversas entrevistas para apresentar e justificar a ampliação desse sistema de progressão.
A princípio, todas as justificativas e razões por ela apresentas são pertinentes e importantes, corroborando com a ideia que tenho de que a progressão é um importante instrumento de qualificação da educação e do processo ensino/aprendizagem.
No entanto, quando questionada pelos repórteres sobre fatores materiais/estruturais para a implantação desse novo programa, toda argumentação da senhora secretária passou do modo presente (a ampliação do sistema já foi implantada) para o modo futuro: vamos fazer formações com os professores, vamos ouvir as partes interessadas, vamos estudar os casos que se apresentarem, estaremos vendo as prioridades e necessidades, poderemos adotar essa ou aquela medida, vamos analisar… De iniciativas materiais, palpáveis, até o momento nenhuma.
* Dificuldades de implementar o sistema
Do período em que eu lecionava ou exercia o cargo de diretor de escola, ficou a constatação de que o sistema de progressão, apesar de importante, repito, encontrava muitos entraves na sua aplicação prática.
Primeiro, a questão referente aos alunos que se não conseguiam dar conta das disciplinas regulares do ano para o qual foram avançados, como fazê-lo de forma ainda mais satisfatória tendo que atender também as disciplinas do ano anterior?
A falta de recursos humanos para trabalhar as recuperações no turno inverso do turno regular é apenas outra das questões que dificulta a implantação do sistema, afinal, sabemos que os professores já trabalham com suas cargas horárias no limite da obrigação legal, e então a mantenedora deveria prover as escolas de mais professores para esta finalidade, o que nem sempre ocorre (geralmente não ocorre!).
Alunos que trabalham ou estagiam ou ainda auxiliam nas tarefas de casa não têm como frequentar a escola no turno inverso para fazer os estudos de recuperação. Quando e como serão ministradas essas recuperações?
Na questão estrutural, muitas escolas se quer têm espaço físico disponível para receber e atender esses alunos. Onde serão prestadas as aulas de progressão?
* Além das questões acima, outras que se apresentam
A presidente do CPERGS – Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul encaminhou à SEDUC a seguinte questão: vai disponibilizar mais professores para as escolas para atender os alunos em progressão?
A presente da UGES – União Gaúcha de Estudantes Secundaristas também fez um questionamento (que eu abordei no item anterior): como ficam os alunos que trabalham e não podem ir à escola no turno inverso a seus estudos regulares? Será garantido a esses alunos também a progressão?
De minha parte algumas questões também se apresentam: como será a avaliação das disciplinas de recuperação? Pergunto, pois corre o risco de o aluno aprovar nos estudos regulares, mas reprovar nos estudos recuperatórios, certo? Se ele não recuperar, ele pode ser aprovado no ano regular?
Como fica a situação dos alunos terceiranistas, que não poderão dispor, no ano seguinte, de estudos de progressão? Se reprovarem, repetirão o ano ou apenas as disciplinas que reprovaram?
E os alunos que se negarem a fazer estudos de recuperação?
São tantas perguntas…
* E então…
Após assistir à apresentação da proposta, bem como as manifestações das autoridades mantenedoras, entenda-se da SEDUC e do governo do estado, fiquei com aquela velha e não-tão-boa impressão, infelizmente tem sido característica da educação pública no Rio Grande do Sul, de que os mandatários da educação tiveram uma ideia, vão implantar e, na medida em que os problemas forem surgindo vão enfrentando-os ou contornando-os; e se mais tarde não der certo, abandonam ou substituem por outra ideia “melhor” (assim, entre aspas…). É o famoso “não existe receita pronta…”, ou o “é caminhando que se faz a caminhada…”, o que na prática é “se virem!!!”, ahahahahah.
Na verdade, o mesmo do mesmo sempre!
Será que é isso mesmo ou eu que sou muito cético quanto às políticas públicas na área da educação? Hein? Hã? Estou procurando cabelo em ovo, piolho em cabeça de prego e perna em cobra?
Quem viver, verá!
Vai lá amigo leitor, dá uma olhada na Portaria SEDUC 924/2024.
Bom fim de semana e até à próxima, se Deus quiser.
E viva Santo Amaro!