Durante a Semana Santa, especialmente na Sexta-feira Santa, os cardápios se transformam em muitos lares brasileiros. Carnes vermelhas saem de cena e o peixe assume o papel principal à mesa. A tradição, embora bastante enraizada na cultura popular, tem origens profundamente ligadas à fé cristã e atravessa séculos de história.
Uma prática de fé e penitência
A Sexta-feira Santa é um dos momentos mais importantes do calendário cristão. A data marca a crucificação e morte de Jesus Cristo, sendo tradicionalmente um dia de reflexão, jejum e penitência. Por isso, a Igreja Católica orienta os fiéis a evitarem alimentos considerados “festivos”, como carnes vermelhas e de frango.
“O peixe, por ser considerado um alimento mais simples, tornou-se uma alternativa adequada para representar o espírito de humildade e sacrifício que a data propõe”, explica o teólogo e historiador Daniel Ferreira.
Um símbolo cristão
Além de ser visto como um alimento “mais leve”, o peixe também carrega um simbolismo próprio dentro da tradição cristã. Ele aparece em diversos episódios bíblicos, como na multiplicação dos pães e dos peixes e nas refeições compartilhadas entre Jesus e seus discípulos.
Nos primeiros séculos do cristianismo, o peixe foi até mesmo um símbolo secreto usado pelos cristãos perseguidos. A palavra “peixe” em grego — Ichthys — era um acrônimo para “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”.
Tradição que atravessa os séculos
A orientação de jejum e abstinência de carne na Semana Santa foi institucionalizada pela Igreja por volta do século XI, durante o papado de Urbano II. Desde então, a prática se espalhou por diferentes culturas cristãs, adaptando-se aos alimentos e sabores típicos de cada região.
No Brasil, a tradição chegou com os colonizadores portugueses e permanece forte até hoje. Dados de mercado indicam que o consumo de peixe aumenta significativamente no período que antecede a Páscoa, com destaque para espécies como bacalhau, tilápia, merluza e sardinha.
No prato e no coração dos brasileiros
Mais do que um hábito religioso, o peixe na Semana Santa tornou-se também um símbolo de união familiar e respeito às raízes culturais. Para muitas famílias, é uma época de preparar receitas que passam de geração em geração, como o tradicional bacalhau à portuguesa ou moquecas cheias de história e sabor.
A tradição, mesmo com o passar dos anos e mudanças nos costumes, segue viva — equilibrando fé, simbolismo e sabor à mesa.