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Mobilização de agricultores cresce e pressiona por soluções no campo

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Rosibel Fagundes

Nesta sexta-feira, 6,  completa-se uma semana de mobilizações de agricultores gaúchos, que vêm realizando bloqueios em rodovias federais e estaduais. Os protestos têm como principal pauta a securitização das dívidas contraídas pelo setor, profundamente afetado por longos períodos de seca e, mais recentemente, pelas enchentes que comprometeram severamente as últimas safras. Os produtores também reivindicam novas linhas de crédito para evitar o abandono do campo.

Na RSC-287, em Venâncio Aires, um novo bloqueio foi iniciado pela manhã, nas proximidades do Restaurante Casa Cheia, no quilômetro 80. Desde as 8h, o tráfego é controlado no sistema “Siga e Pare”, com liberação alternada de veículos em apenas um sentido. Ambulâncias e veículos de emergência têm passagem livre.

Os agricultores de Santa Cruz do Sul, Vale Verde, Passo do Sobrado e Mato Leitão mantêm presença no local desde a segunda quinzena de maio, com tratores e outras máquinas agrícolas posicionadas às margens da rodovia. O movimento tem ganhado força com a adesão de produtores de outras cidades, como os de General Câmara, por exemplo, explica o agricultor Rogério Palhares, de Venâncio Aires, um dos líderes regionais do protesto.

“Não recebemos nenhuma proposta que realmente atenda o setor. Aquela prorrogação de três anos não resolve nada. Alguns produtores precisam de prazos de 10 ou até 20 anos. Três anos é insuficiente “, afirma Palhares.

Segundo ele, o movimento conta com o apoio de lideranças políticas locais. “Já estiveram aqui políticos estaduais, o prefeito e o vice de Vale Verde, representantes de Santa Cruz do Sul e de outros municípios”, destaca. Nesta sexta-feira,6, o Deputado Federal, Marcelo Moraes (PL) líder da bancada gaúcha no Congresso, esteve no local e manifestou apoio aos agricultores, assim como alguns vereadores de Vale Verde, juntamente com o prefeito Ricardo Froemming (MDB), entre outros políticos.

Além do bloqueio em Venâncio Aires, há outro ponto de interdição parcial na RSC-287, em Vera Cruz. Segundo entidades do setor, mais de 60 pontos em todo o Rio Grande do Sul registram algum tipo de interrupção, parcial ou total, nas rodovias.

 

Apoio do governo estadual

O secretário estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Edivilson Brum, que assumiu o cargo em abril, manifestou apoio às mobilizações e defendeu melhores condições para o pagamento das dívidas.

“O Governo do Estado acompanha com atenção e sensibilidade as mobilizações dos produtores diante da grave situação no campo. Manifesto meu total apoio às reivindicações e reforço o compromisso em buscar condições mais justas para o pagamento das dívidas dos agricultores gaúchos”, afirmou.

Brum destacou a importância do agronegócio para a economia estadual, responsável por cerca de 40% do PIB do Rio Grande do Sul.

“São os produtores rurais que, com trabalho e resiliência, geram emprego, renda e oportunidades. Defender o agro é defender o que é nosso. Estamos em diálogo direto com o Governo Federal, apresentando propostas viáveis e justas. O momento exige respostas rápidas e eficazes. Não mediremos esforços para garantir o apoio necessário para que nossos produtores atravessem essa crise com dignidade e segurança”, finalizou.

As reivindicações dos produtores

As demandas do setor giram em torno do alto endividamento enfrentado pelos agricultores, agravado pelos eventos climáticos dos últimos anos. Desde 2018, o Rio Grande do Sul passou por cinco períodos de estiagem e duas enchentes, a mais severa em 2024, que atingiu cerca de 90% do território gaúcho.

Entre os principais pedidos estão:

*Prorrogação e renegociação das dívidas: A Fetag-RS apresentou, em fevereiro, um pedido de prorrogação dos vencimentos por quatro meses e negociação com prazo de até 12 anos. A proposta foi considerada inviável pelo governo. A medida em vigor permite a prorrogação de dívidas de custeio do Pronaf por três anos.

*Securitização: Os produtores pedem o parcelamento das dívidas em até 20 anos, abrangendo operações de custeio, investimentos, cooperativas e cerealistas. O governo federal rejeitou a proposta inicialmente, alegando falta de recursos. Um projeto de lei que prevê a conversão das dívidas em títulos do Tesouro segue em análise.

Medida aprovada não atende ao setor

No dia 29 de maio, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou uma resolução que permite a prorrogação de dívidas contratadas por meio do Pronaf e do Pronamp. O alongamento poderá ser de até três anos, limitado a R$ 90 mil por produtor. Já as parcelas de investimento com vencimento em 2025 poderão ser prorrogadas por um ano após o término do contrato original. Embora reconheçam que a medida possa abrir espaço para novas negociações, os agricultores consideram que ela não resolve a situação. Para o produtor Rogério Limares, a resolução está longe de atender às reais necessidades do campo.