Bom dia amigos leitores
* Capítulo 11 – Dia 11 da viagem (16/02/24) – Sexta-feira
Após um artesanal café da manhã no confortável Hotel HR, partimos de Copiapó pela Ruta 5, para a cidade de Los Vilos, em uma viagem de quase 600 km pelo litoral pacífico do Chile. O destaque para esse dia foi que se juntou à paisagem de mar-deserto-montanha que há alguns dias já nos acompanhava, um intenso e gélido nevoeiro, muito comum por aquelas bandas. Chegamos a viajar por quase duas horas cobertos por esse nevoeiro, enxergando poucos metros da rodovia, e apesar de estarmos no verão, no litoral e praticamente dentro do deserto, a temperatura chegou a ficar próxima a 10 graus.
Também seria nossa última noite em solo chileno.
* Pane seca e comendo loco
Ao sairmos de Copiapó rodamos exatos 300km sem abastecer. Era óbvio que ficaríamos sem combustível. Felizmente tínhamos os tanques sobressalentes, dois tanques plásticos de 5 litros de combustível cada, o que nos dava autonomia para percorrermos tranquilamente as distâncias necessárias até os pontos de abastecimento…
Paramos para almoçar e abastecer (com os tanques sobressalentes) na pequena vila de Caleta Hornos, um pequeno povoado formado por duas pedregosas praias e vários restaurantes à beira-mar, quase no meio de nossa jornada para aquele dia, sendo que escolhemos um (restaurante) ao acaso, restaurante Mirador (ou seria o Marina, que ficava ao lado?) para saborearmos mais um fresco e delicioso pescado.
Neste restaurante fomos apresentados a um interessante produto da culinária marinha chilena, muito conceituado entre os entendedores: el loco, um crustáceo, um grande marisco, de valor bastante elevado nos mercados. De repente, como o saboreamos o bicho na forma pura, apenas cozido “ao bafo”, tenha deixado um pouco a desejar. Dizem que em conserva é um acepipe dos mais gostosos e apetitosos… Vanvê, kkk.
* Los Vilos
Escolhemos a cidade de Los Vilos para pernoitar, pois era a que se apresentava mais próxima da rodovia de acesso ao Paso Libertadores, fronteira entre Chile e Argentina. Nosso planejamento inicial era ir até à grande e bela cidade portuária de Viña del Mar, para depois subir a Cordilheira dos Andes e passar para a Argentina, mas em conversas com um casal de motociclistas bolivianos que encontramos em um posto de gasolina, eles nos disseram que havia tido um grande incêndio na cidade de Viña del Mar e o trânsito lá estava caótico. Fomos ao mapa e a opção que se apresentou então foi Los Vilos, a cidade mais próxima de nosso destino.
Los Vilos é uma pequena comuna (cidade) no litoral pacífico do Chile, com aproximadamente 25.000 habitantes.
Chegamos lá à tardinha, tempo fechado, frio, e logo tratamos de procurar hospedagem. Rejeitamos a primeira que encontramos, pois, apesar de muito grande, bonita, limpa e espaçosa, não tinha internet, e precisávamos dela para manter contato com família e amigos. Mas uma vez, então, usamos a seguinte técnica de procura: o Chico ficava cuidando das motos estacionadas em uma rua, e eu saía a procurar e especular pousadas, hotéis, hostels… Fomos para o Hotel Lord Willow, bem em frente à Playa Las Brisas e à avenida Costaneira. Foi uma escolha se se mostrou muito acertada.
À noite, fomos conhecer a avenida Costaneira com seus muitos bares e restaurantes, e para nossa surpresa, havia uma grande feira comercial de artesanatos, fast food, etc. Além disso, realizava-se, também, a grande final de um festival musical de intérpretes, e fomos premiados por excelentes apresentações musicais. Por ser uma cidade turística, Los Vilos estava com um grande público em seu evento, fato que nos lembrou os eventos que ocorrem em nossas praias na alta temporada (apesar de que lá havia um friozinho interessante…). Foi uma noite bastante agradável e, mais uma vez, após as compras de souvenires de praxe, em especial um litro de Pisco a 48% de graduação alcoólica, kkk, voltamos para o hotel e o sono veio muito rápido, o que foi facilitado pelo tinto seco e encorpado que tomei, e pelo “boa-noite-Cinderela” com que o Chico compartilhava a cama todas as noites, ahahahahah.
No dia seguinte partimos para a Argentina, mais especificamente para Mendoza, através de los Caracoles, uma rodovia que em pouco mais de 1km se sai praticamente do nível do mar, sobe-se até 3.200m, através de 29 (vinte e nove!) sinuosas curvas. Mas isso fica para o próximo capítulo.
* Catástrofe
Sou daqueles que pensam que o pior ainda está por vir. Claro que “fugir de casa” tendo que deixar tudo para trás deve ter sido terrível (nós que não passamos por isso não fazemos a menor ideia das sensações de desespero, pavor, medo por que passaram as pessoas); não ter para onde ir e não saber para onde ir, também deve ter sido terrível.
Agora vem o retornar, sem se saber para exatamente para onde. Pior, retornar e se chegar onde antes haviam casas, móveis, veículos, histórias de toda uma vida que, de uma hora para outra, desapareceram, não existem mais. Isso deve causar uma dor absurda também. Digo deve, pois como não passei por situação semelhante, só posso fazer ideia, mas assim, de forma muito superficial.
Penso que “a volta”, assim, entre aspas, será um momento de intensa provação, pois que presentes o desamparo e a desesperança…
É o momento em que será materialmente contundente a presença do nada. O tudo será substituído pelo nada; o bom, pelo nada; o sim, pelo nada; as lembranças, pelo nada.
Residirá nessa luta a força para o reerguimento. Precisaremos sobremaneira conseguir, ainda não sei como, lutar para tirar forças do nada, desse nada e de outros nadas.
Fé, força e esperança. Eis aí o que, neste momento, poderá fazer a diferença.
Bom fim de semana, apesar dos pesares, e até à próxima, se Deus quiser.