Bom dia amigos leitores
* Praia 2025
Muitas cidades litorâneas gaúchas e catarinenses (e muitas outra brasileiras) este ano adotaram uma campanha para proibir que os usuários levem aparelhos de som para a beira da praia. A justificativa é que o som alto de uns acaba por causar incômodo a muitos outros. A situação chegou a tal ponto que é autorizado, inclusive, o uso de força policial para intimidar os barulhentos.
O assunto é polêmico.
* O fenômeno
Nos meses de janeiro e fevereiro, mas não só, a orla atlântica brasileira costuma ficar superpovoada.
O fenômeno brasileiro é antigo: é tradicional aos brasileiros, de norte e sul, passarem suas férias, ou parte delas, na praia.
Milhões de brasileiros migram, todos os ano, de suas cidades para o litoral. Muitas cidades que, durante a baixa temporada, isto é, de março a novembro, têm população residente de 40 a 50 mil pessoas, ou menos, na época das férias passam a ter 200 a 300 mil moradores, ou mais. E isso, obviamente, tem uma série de implicações: trânsito lento, ruas cheias de pessoas, comércio e serviços movimentados sobremaneira; tudo fica mais cheio de gente, mais lento e mais complicado.
* Quem ganha com isso?
De uma forma geral quem mais aguarda esse período, fora os veranistas, sobre os quais falarei abaixo, são os comerciantes das cidade praianas, pois veem a movimentação de seus estabelecimentos crescer muito, aumentando, por conseguinte, seus lucros. O mesmo vale para prestadores de serviços.
As próprias administrações municipais veem, com a chegada do verão, o aumento da arrecadação de impostos sobre serviços e produtos, o que é sempre bem vido, claro.
A alta temporada é muito bem vinda para aqueles que lucram com ela, é óbvio.
* Bora para a praia?
Os veranistas, ao menos boa parte deles, de um modo geral os mais novos, mas não só, vão em busca de diversão; querem se distrair, festear, brincar, confraternizar com os amigos e, de vez em quando, aproveitar a praia; querem agito e balada. Para fazerem isso, alguns ingredientes são necessários: turma reunida, din-din no bolso, música, uma bebidinha.
Essa “fuga” da rotina regular do ano faz com que queiram aproveitar o máximo, no menor espaço de tempo. A palavra de ordem é intensidade.
Daí que, muitas vezes, nessa busca frenética pela diversão e “aproveitamento das férias” ocorre um certo excesso que acaba por causar incômodos àqueles que estão ou vão para a praia justamente para buscar sossego e tranquilidade…
* Também se vai à praia para “descansar”
Exatamente amigo leitor.
Se muitos vão para à praia em busca de festerê e agito, muitos outros vão para, fugindo da realidade de trabalho, estudos e compromissos, relaxar, descansando e repondo as energias para o “ano regular” que se aproxima.
* E os que não vão para a praia por que já moram lá?
Também para esses a alta temporada de veraneio pode dividir as opiniões.
Muitos gostam da chagada dessa horda de turistas e todos os inconvenientes que os acompanham; gostam da movimentação das ruas, ermas em outros momentos; gostam de ver gentes, do barulho, da conversaiada, da agitação. Mas muitos não gostam; odeiam mesmo, pois veem alterada sua rotina, aumentadas as dificuldades para adquirir produtos e serviços que, noutras épocas, é muito mais tranquilo; a grande quantidade de pessoas nas ruas os incomoda, o barulho lhes é ruim, o trânsito intenso lhes prejudica, e ir à praia então, sempre lotada e agitada, é algo que se torna obrigatoriamente evitável…
* E eis que surge o conflito
Está declarada a guerra praiana mundial.
De um lado, os barulhentos que, ou não sabem que incomodam, pois querem apenas se divertir e “aproveitar”, ou não se importam em incomodar, afinal, são poucos dias de praia a serem “curtidos”. De outro, os da tranquilidade que, incomodados pelos primeiros, tentarão encontrar a paz em meio ao caos.
Não são raros os relatos de conflitos, alguns até violentos, entre os grupos contendores.
Foi justamente na tentativa de buscar um meio termo entre os lados conflitantes que as administrações municipais passaram a adotar a inciativa de coibir o som alto na beira da praia. E as ações têm sido bastante intensas nesse sentido, inclusive com a apreensão, por parte das autoridades fiscalizadoras, de caixas de som e aparelhos sonoros.
* A quem assiste razão?
Como eu disse acima, o assunto é bastante polêmico.
Porém (e sempre há poréns), eu acredito que tudo possa ser equacionado a partir de critérios razoáveis de sociabilidade e respeito recíprocos.
Penso que há espaço para todos, tanto para os que querem ouvir sua música quanto para os que querem a tranquilidade. O problema é sempre o excesso.
Se as pessoas se atentassem para o princípio geral da vida em sociedade, segundo o qual o direito de um termina no exato ponto em que começa o direito do outro, conflitos como esses não ocorreriam.
Como dito acima, o problema é o excesso. Daí que o meu direito de ouvir música não pode ser traduzido por “ouvir música em volume alto ao ponto de incomodar quem está próximo”. Em sentido contrário, o meu direito de ir à praia e não ser incomodado não pode ser traduzido por “não permitir que outras pessoas ouçam música em volume tal que não me cause incômodo”. Em termos práticos seria assim então: quem quer ouvir música alta, que use fone de ouvidos; quem não quer ouvir nenhuma música, que não saia de casa ou use protetores auriculares.
O que o amigo leitor pena a respeito?
* Esse não é um problema exclusivo das praias
Com certeza não.
Muitos são os relatos de pessoas que se incomodam com vizinhos desrespeitosos que querem impor a todos os demais as suas músicas. Não são poucas as ocorrências policiais, as brigas, as disputas judiciais em torno dessa situação.
É assunto que não se esgota.
Bom fim de semana e até à próxima, se Deus quiser.
PS. Perguntado a um morador da praia como é viver na beira do mar, ele responde: aqui é muito bom, muito mesmo. O problema é no verão, quando chega a bagacerada! Ahahahahahahah