Produtores tem dificuldade de acesso as lavouras
Rosibel Fagundes
Com área total semeada com arroz no estado estimada em 900.203 hectares, de acordo com o Instituto Riograndense de Arroz (IRGA), a produtividade inicial de colher 8.325 kg/ha, deverá sofrer redução devido aos impactos das chuvas que atingem o estado. De acordo com a Emater/RS- Ascar, a quebra na produtividade em sua maioria será influenciada pela indisponibilidade de radiação solar e pelas fortes chuvas nas lavouras.
Na região do escritório regional de Soledade, que atende diversos municípios do Vale do Rio Pardo e Taquari, as perdas deverão ser maiores proporcionalmente em relação a área cultivada, uma vez que se estima que 35% das lavouras ainda não foram colhidas, por estarem inacessíveis para as máquinas entrarem. Nestes casos, só é possível o uso de colhedoras com esteira em função do atolamento.
De acordo com laudos municipais preliminares, as perdas nestas áreas tendem a ser quase que totais, pois parte do arroz esta acamada e germinação dos grãos é bastante grande.
Na Várzea dos Camargo, em Passo do Sobrado, o produtor Fábio Antônio Kessler, espera por uma janela sem chuvas para colher parte dos quase 100 hectares de arroz e iniciar a colheita da soja (50 hectares), que ainda estão na lavoura. “No arroz tínhamos colhido uns 20 hectares e faltava colher o restante. Ficamos parados desde o dia 05, e voltamos fazem dois dias, mas tapou mais de um metro de água, e agora a chuva retornou. A perda só não é maior porque a lavoura foi semeada na metade de novembro, e o arroz estava ficando pronto para colher neste período, ainda estava com a palha um pouco verde quando deu a enchente. Outra parte que já estava pronta, afetou bastante”, esclarece.
Além de ser irrigada por alagamento, a produção do arroz também fica sujeita aos danos de enchentes. O acamamento (a lavoura “deita”) acaba afetando o potencial de produtividade da planta.
“A água baixou, fizemos alguns ajustes e as máquinas entraram porque tem esteira, mas a de soja, que é de pneu, essa não vai entrar. As lavouras não secam mais e viraram banhados”, disse.
Segundo ele, as perdas no arroz chegam próximo de 40%, e de soja, chegam a 90%. “Eu iria começar a colher a soja neste período, mas não sei se vai dar devido a umidade. A soja não temos secador em casa e os compradores não estão mais recebendo, não dão conta de secar. O que passa de 23% ou 24% de umidade, eles não estão mais recebendo, porque leva quase um dia para secar e tem cooperativas com caminhões parados com grãos apodrecendo dentro dos pátios”, afirma.
Plantador de arroz há mais de 20 anos, ele conta que nunca passou por nada igual. “Desde que era jovem eu já plantava com o pai, já tivemos diversas perdas por enchente, mas bem menores. Essa foi a maior. Além das lavouras, o armazém que eu tenho em Venâncio Aires, construído na época que meu pai plantava, entrou mais de um metro de água dentro. Por sorte, desta vez não tínhamos colocado arroz dentro, nunca aconteceu, até por ser uma área em uma cochilha”. Os grãos colhidos na propriedade de Kessler, estão armazenados em silos, na localidade de Pinheiral. Após secos, devem ser comercializados.